Bandeira usa no BPN os mesmos directores que Oliveira Costa

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O BPN foi intervencionado pelo Estado em Novembro de 2008 Nelson Garrido

O presidente do BPN, Francisco Bandeira, recorreu a directores que Oliveira Costa usou para certificar contas do BPN.

A actual gestão do BPN, nomeada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) e liderada por Francisco Bandeira, mantém em funções, ao nível de topo, três ex-responsáveis do banco no tempo em que Oliveira Costa presidia à instituição. Um deles, Gabriel Rodes, é alvo de um processo no Banco de Portugal, enquanto Armando Pinto chegou a depor na comissão de inquérito parlamentar ao BPN.

A questão foi levantada pelo deputado do PP, João Almeida, durante a audição de Francisco Bandeira na Assembleia da República. O gestor foi depor no quadro da Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças, que o ouviu na qualidade de presidente do BPN.

De acordo com o PP, a actual gestão do BPN mantém em funções directores que trabalhavam com Oliveira Costa quando este estava à frente do banco e a instituição registou um conjunto de irregularidades que levaram à sua nacionalização, com um buraco de dois mil milhões de euros que terá de ser assumido pelo Estado. Questionado sobre este facto, Bandeira não esclareceu se mantém, ou não, em funções os directores em questão. E teve de ser um outro membro da actual equipa de gestão do BPN, Lourenço Soares, a responder, afirmando que o responsável pela auditoria tinha sido afastado.

Depois, e após uma ausência de resposta sobre o director financeiro, o PP voltou à carga, cabendo então a Lourenço Soares prestar esclarecimentos sobre o assunto. O actual responsável do BPN, que acompanhou Bandeira à AR, falou logo em Armando Pinto, que era no tempo de Oliveira Costa chefe do serviço jurídico, tendo chegado a assumir funções de administrador. E que se manteve no BPN após a nacionalização devido, segundo disse Lourenço Soares, à sua competência.

Recorde-se que Armando Pinto prestou declarações no quadro da Comissão de Inquérito parlamentar ao BPN onde declarou que na sua qualidade de ex-gestor foi pago em dinheiro “vivo”, uma prática de Oliveira Costa reveladora do modo de funcionamento do banco. Depois de o PP ter insistido, Lourenço Soares confirmou que o ex-director financeiro de Oliveira Costa, Gabriel Rodes, é actualmente director jurídico do BPN. E reconheceu que este está a ser averiguado pelo Banco de Portugal devido aos factos ocorridos quando era director financeiro do principal arguido do caso BPN. Mais não disse.

Mas a actual gestão de Bandeira decidiu manter em funções um dos directores financeiros de Oliveira Costa, José António Pereira da Silva, que tinha substituído Gabriel Rodes quando este liderava aquele departamento. Lourenço Soares lembrou que este tinha estado pouco tempo com Oliveira Costa e que era também ele “um quadro competente” pelo que não existiam razões para ele não exercer funções. Sobre a actual situação financeira do BPN, Francisco Bandeira admitiu que a sua gestão não conseguiu travar a fuga de depósitos no valor de 3,4 mil milhões de euros. Havia fundos superiores a cinco mil milhões de euros à data da nacionalização, Novembro de 2008, e, um ano depois, eram de 4,78 mil milhões de euros.

Os custos do BPN

Bandeira reconheceu ainda que 15 por cento dos depósitos levantados foram para a CGD, mas negou que o banco público se tenha movimentado para roubar clientes. Sem nunca esclarecer quais as perdas para o erário da nacionalização do BPN, Bandeira notou que, no minímo, as perdas serão de dois mil milhões de euros.

O aumento de capital até 500 milhões de euros, que o BPN pediu ao Estado, e que poderá ser anunciado nas próximas horas (por recurso ao fundo de recapitalização da banca), destina-se a capitalizar o banco, pondo os rácios de capital no patamar exigido pelo Banco de Portugal. E a dotá-lo ainda de liquidez que permita ao BPN pagar os empréstimos ao grupo público, explicou Norberto Rosa, vice-presidente da CGD, tal como Bandeira, e que é gestor do BPN (também esteve com Bandeira na AR).

Estes responsáveis explicaram que os três veículos criados para receberem os activos do BPN, no valor de 3,9 mil milhões de euros, vão assumir, ao todo, 1,8 mil milhões de euros que são tóxicos (imparidades e insuficiências). O critério usado para transferir os activos para os veículos "foi económico e financeiro".

Os três veículos (Parvalorem, Parups e Parparticipadas), irão ser supervisionados pelo Banco de Portugal, e serão geridos por uma equipa independente da CGD.Lourenço Soares terminou a sua intervenção com um pedido: "Ajudem-nos a salvar o BPN". Um pedido que suscitou risos entre os presentes da comissão.

Notícia substituída às 23H50
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