Um pouco de "The Killing of a Chinese Bookie", de Cassavetes, algo de Renoir (Jean e Auguste), ou seja, generosidade no olhar e nas formas, melancolia e raiva rock'n'roll. E, apesar disto, coisa pessoal e livre.
Com "Tournée", quarta longa de Mathieu Amalric, o realizador e actor rasga uma certa imagem de "auteur" e de intérprete (aquilo que fez para o cinema de Arnaud Desplechin, por exemplo). Criando algo de mais selvagem com a ajuda de opulentos exemplares do "burlesque": Mimi Le Meaux, Kitten on the Keys, Dirty Martini ou Julie Atlas Muz, criaturas do revival de uma tradição do vaudeville americano, o New Burlesque, que nada tem a ver com o design escultural de Dita Von Teese (nem, já agora, com o de Christina Aguillera e de Cher).
Amalric interpreta o empresário de um show que regressa a França com as suas artistas, recrutadas nos EUA, disposto a vencer em Paris. Onde nunca chegará - "malaise" e melancolia, figura em fuga, nunca se sabendo se corre para um objectivo ou se foge de si próprio. O filme é generoso e caótico, sempre em trânsito entre o documental (os shows, filmados em tournée pela costa francesa) e o ficcional, desenvolve-se através de linhas de fuga que se desviam e ao mesmo tempo querem regressar a uma base - esse é o périplo do janota existencialista Joachim
Amalric, sempre de saída e sempre de regresso a estas meninas de carne e de luz esplendorosamente fotografadas.