Atracção fatal de luxo

O potencial para o filme marcar um regresso de Egoyan à melhor forma estava lá todo. Mas...

Atom Egoyan a dirigir uma "remake" produzida por Ivan Reitman (ele dos "Caça-Fantasmas")? O estimável autor canadiano de "Exotica" e "O Futuro Radioso" arriscou aqui, assumidamente, um filme de encomenda, "remake" americana do filme francês de Anne Fontaine, "Nathalie...", sobre uma esposa - uma Julianne Moore absolutamente soberba - que contrata uma prostituta de luxo para testar a fidelidade do marido.


E, durante a primeira hora, Egoyan e Moore constroem, com infinita elegância e delicadeza, uma teia equívoca de ambiguidades e sugestões que funciona, ao mesmo tempo, como manual básico de manipulação e metáfora da arte de contar histórias. Moore é magistral na modulação infinitesimal das emoções conturbadas que o papel lhe pede; Egoyan guia-a com precisão e justeza sem nunca perder de vista as necessidades da narrativa. Eis senão quando, à entrada do "terceiro acto", "O Preço da Traição" descamba para uma espécie de "Atracção Fatal" de luxo, guinada que parece ser uma "traição" não só ao próprio filme como à inteligência do seu realizador e à entrega dos seus actores - o potencial para o filme marcar um regresso de Egoyan à melhor forma depois de algumas obras menos felizes estava lá todo.

Há muito tempo que não víamos Julianne Moore com papel tão forte para ferrar o dente - e, mesmo que o filme não cumpra a promessa daquela primeira hora, é tão raro podermos ver uma actriz tão entrosada com a sua personagem que não nos devemos dar ao luxo de o ignorar quando aparece. E só ela vale o preço do bilhete.

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