Microsoft prepara resposta ao iPad da Apple na feira de tecnologia de Las Vegas

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Até Setembro, a Apple já tinha vendido 7,5 milhões de iPad Reuters

Steve Ballmer, CEO da Microsoft, vai apresentar novos programas para os portáteis do tipo tablet no Consumer Electronics Show (CES), nesta semana em Las Vegas (EUA). E irá defrontar-se com os cépticos que dizem que a sua empresa não conseguirá tão cedo anular o avanço de que goza o iPad, da Apple.

"Quando a Microsoft perceber o que lhe falta, já toda a gente terá o seu iPad", disse Keith Goddard, CEO da Capital Advisors, uma empresa de investimentos de Tusla (Oklahoma), que detém acções da Apple. "Esse comboio já saiu da estação."

Fontes próximas da Microsoft fizeram saber na passada semana que a empresa deverá anunciar no CES uma versão integralmente nova do seu sistema operativo Windows para computadores capaz de correr sobre processadores ARM. O certame abre no próximo dia 6 em Las Vegas.

A aliança com a ARM Holdings é uma forma de a Microsoft fazer frente à Apple, que chamou a si o maior quinhão do mercado dos tablets graças ao seu iPad, um computador com ecrã táctil apresentado em Abril deste ano e que também é capaz de reproduzir vídeo e música. Mas, ainda segundo Keith Goddard, este esforço só terá sucesso se a Microsoft conseguir igualar as capacidades que os utilizadores apreciam no iPad.

Segundo as mesmas fontes, a nova versão de Windows virá conformada a dispositivos alimentados por bateria, como os tablets e os dispositivos de acesso sem fios à Internet. Os processadores baseados na tecnologia ARM são fabricados por empresas como a Qualcomm, a Texas Instruments e a Samsung Electronics.

Frank Shaw, porta-voz da Microsoft, não quis fazer quaisquer comentários às afirmações dos críticos, remetendo para as declarações de Steve Ballmer em Julho passado. Na altura, o CEO da empresa afirmou, numa reunião com analistas: "Estamos a adequar o Windows 7 a equipamentos completamente novos", reconhecendo ainda que a Apple vendera "certamente mais" do que ele gostaria que ela tivesse vendido.

Há cerca de dez anos que os fabricantes de computadores têm vindo a tentar impor portáteis do tipo tablet baseados no Windows da Microsoft - mas, até aparecer o iPad, estes portáteis nunca conseguiram passar dos dois por cento do mercado dos PC. A Apple já vendeu, até Setembro, 7,46 milhões de iPad. E, segundo analistas da Goldman Sachs, poderá vender em 2011 mais de 37 milhões destes computadores portáteis - o que catapultaria os tablets para algo como 9,2 por cento do mercado dos PC no próximo ano.

A vanguarda da Apple

De acordo com Michael Gartenberg, analista na Gartner, além de conquistar quota de mercado, a Apple também redefiniu as expectativas dos utilizadores acerca do que deverá fazer um tablet, permitindo que o utilizador navegue e interaja com a máquina usando os dedos. "A Apple fez neste ano o que ninguém tinha conseguido nos dez anos anteriores: preencher o fosso entre o PC e o telemóvel", disse Gartenberg. "A Microsoft tem andado a esforçar-se para aplicar uma cavilha quadrada num buraco redondo."

No entanto, este analista de Nova Iorque reconheceu que a apresentação perante as mais de 100 mil pessoas esperadas no CES - a maior feira de tecnologia nos EUA - permitirá à Microsoft conseguir resultados. "Será uma magnífica oportunidade para a Microsoft recuperar algum terreno", disse ainda Gartenberg. "Agora, que a Apple abriu, de facto, o mercado, ninguém quer ficar para trás."

Ao adaptar o seu sistema operativo Windows para PC aos tablets, a Microsoft optou por uma abordagem diferente da da Apple, que baseou o iPad no seu sistema operativo para telemóveis. O software da Apple proporciona um arranque instantâneo, maior autonomia da bateria e acesso a mais de 300 mil programas já desenvolvidos para o iPhone.

Segundo pessoas familiarizadas com os esforços da Microsoft, esta está a pegar em programas concebidos para serem usados com rato e teclado e a adaptá-los ao ecrã táctil - o que exigirá que os programadores refaçam essas aplicações de modo a que elas possam ser usadas num tablet.

Os processadores assentes na tecnologia ARM são já hoje usados em muitos dos smartphones, bem como no iPad da Apple - mas não têm o mesmo rendimento na computação numérica e noutras tarefas que os processadores da Intel, presentes na maioria dos PC. Pelo que usar uma versão integral do Windows num tablet com processador desenhado para telemóveis poderá resultar numa máquina lenta e pesada, afirmou Michael Cherry, analista da empresa Directions on Microsoft.

Para Michael Cherry, os actuais tablets baseados no Windows são difíceis de usar: "Eles são o que eu chamaria "Frankentablets" - em parte PC portáteis, em parte tablets, mas sem desempenharem bem nem um papel nem o outro."

Entrar na batalha

Desde o aparecimento dos computadores pessoais que a Microsoft tem disputado este mercado com a Apple. O Windows ganhou os primeiros confrontos, relegando os computadores Macintosh para menos de 10 por cento do mercado. Hoje em dia, tem também pela frente a Google, que lançou o mais usado motor de busca da Internet e agora também o Android, um sistema operativo para telemóveis.

De acordo com o NPD Group, nos últimos meses, as vendas de telemóveis com o Android nos EUA ultrapassaram as vendas combinadas dos iPad e dos iPhone, os dispositivos que usam o software da Apple. Empresas como a Dell e a Samsung, que usam o software da Microsoft nos seus PC, estão já a preparar tablets assentes no Android para não perderem mais terreno para a Apple.

Quanto mais tempo a Microsoft levar a pôr cá fora um sistema operativo para os tablets, menores serão as suas possibilidades face à Apple e à Google, disse Tim Bajarin, presidente da Creative Strategies, uma firma de pesquisas de mercado. "Mas, mesmo considerando o atraso da Microsoft, esta batalha não deixará de ser muito renhida", acrescentou este analista.

Com Dina Bass. Bloomberg/PÚBLICO
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