Portugal ainda é quase só um país de futebol

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Nélson Évora é o único campeão olímpico que Portugal tem actualmente Wolfgang Rattay / Reuters (Arquivo)

Primeiro Figo, Cristiano Ronaldo, José Mourinho. Só depois, e a muita distância, Nélson Évora, Naide Gomes, Vanessa Fernandes ou Armindo Araújo. Portugal pode estar a diversificar-se em termos desportivos e a conquistar resultados de excelência em muitas modalidades, mas continua a ser muito um país de futebol. É este o desporto que tem mais praticantes, o que tem mais visibilidade e exposição mediática, o que movimentas mais paixões e mais dinheiro. E o que mais tem crescido na última década, num panorama de aumento generalizado do número de praticantes nas várias modalidades

Entre o quase meio milhão de praticantes desportivos federados existentes em Portugal no ano de 2009, quase um terço (144.557) são futebolistas, entre o futebol profissional e não profissional, distribuídos pelos vários escalões etários, o que representa três vezes mais do que os existentes na segunda modalidade mais praticada, o basquetebol (40.250 atletas federados). “O futebol é o desporto que se tem destacado na última década, não só em número de praticantes, como também em termos organizativos, como provou o Euro 2004”, confirma Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal.

Nos últimos dez anos, o futebol tem crescido sempre em número de praticantes, com um aumento de mais de 30 mil federados em relação a 2000. O futebol português é mais competitivo face às maiores potências mundiais e há cada vez mais presença de jogadores portugueses fora dos campeonatos nacionais. Em selecções, há uma presença constante nas grandes competições, com classificações de relevo - meias-finais do Euro 2000 e Mundial 2006, final do Euro 2004.

Mas o futebol não é a excepção. Quase todas as modalidades em Portugal cresceram em número de atletas. O voleibol, por exemplo, quadruplicou em 2009 o seu número de praticantes em relação a 2000 – de 9.813 para 40.090. Evolução igualmente significativa tiveram o basquetebol (10.204 para 40.250), o andebol (22.032 para 37.562) e o ténis (10.204 para 25.550), enquanto o ténis-de-mesa, apesar dos resultados desportivos e da boa classificação dos portugueses no “ranking” mundial – três no “top” 100 masculino, Tiago Apolónia (23.º), Marcos Freitas (51.º) e João Monteiro (70.º) – é uma das modalidades que desceu ligeiramente em número de federados (4.593 para 2.868).

“Há uma consistência no desenvolvimento desportivo. Há modalidades que têm demonstrado uma evolução positiva e consistente, como o atletismo, o judo ou a canoagem”, comenta Vicente Moura, dando como exemplo as “oito dezenas de medalhas em dez modalidades diferentes” conquistadas por atletas portugueses em diferentes competições antes dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, “sinal de crescimento horizontal”. “Antes dos Jogos, pensávamos até que podíamos conquistar dez medalhas na China sem favor nenhum”, acrescenta o líder do COP – a comitiva portuguesa apenas conseguiria conquistar duas, o ouro de Nélson Évora no triplo-salto e a prata de Vanessa Fernandes no triatlo.

Melhorar desporto escolar

A acompanhar o crescimento do número de atletas estão os clubes. Em 2009, segundo o IDP, existiam em Portugal 11.302 clubes, mais 2.406 que em 2000, um acréscimo de cerca de 20 por cento, o que dá, num país com 10,6 milhões de pessoas, uma média de um clube por cada 934 habitantes. Desde o início da década que este número havia estabilizado um pouco abaixo dos dez mil, ultrapassando-o em 2004 e atingindo o seu máximo em 2006 (12.671). Não há, no entanto dados actualizados sobre as instalações desportivas no país. O IDP diz que ainda não está concluída a Carta Nacional das Instalações Desportivas, cuja última fase, acrescenta, será iniciada no início de 2011.

Apesar do crescimento que os números mostram e mesmo reconhecendo a evolução na última época em relação a um passado mais distante, Vicente Moura considera que a realidade desportiva em Portugal ainda está longe do ideal e, enquanto estes números se mantiverem baixos, ficarão sempre por descobrir grandes atletas. A solução, acrescenta o presidente do COP, é começar por baixo. “Portugal ainda tem uma baixa relação entre desportistas federados e o número de habitantes. Há atletas dotados que nem sequer iniciam a prática desportiva. Tudo começa no desporto escolar. Apesar de haver maior relação entre a escola e os clubes, ela ainda não chega”, conclui.

Notícia corrigida às 15h10

O basquetebol é a segunda modalidade com mais atletas federados, 40.250
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