Vendas de Natal vão igualar nível de 2009, dizem as grandes lojas

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Muitas lojas anteciparam a época de saldos Pedro Cunha/ arquivo

Em Portugal, fala-se há tanto tempo de crise que é difícil lembrar os dias em que ela não existia.

Mas as boas notícias deste Natal é que, face às campanhas agressivas lançadas pelos comerciantes, algumas lojas estimam que as vendas no final deste ano estão a ser semelhantes às que se tinham registado em 2009.

"Os números de vendas desta campanha de Natal são idênticos aos que obtivemos no mesmo período do ano passado, o que, considerando as actuais circunstâncias, é muito positivo", comenta a responsável pela comunicação do El Corte Inglés, Susana Santos, que antevê também uma época de saldos com "números idênticos" aos do último ano.

A mesma opinião é partilhada por uma fonte oficial da Fnac, que vê com bons olhos o facto de, nestes últimos dias, as lojas da cadeia francesa terem alcançado "um volume de vendas muito semelhante ao do ano passado", considera Viriato Filipe, director de marketing e comunicação institucional da Fnac Portugal. Também da parte dos hipermercados Continente, do grupo Sonae (ao qual pertence o PÚBLICO), uma fonte oficial indicou que as vendas estão a decorrer "em linha" com o que sucedeu na mesma época durante o ano passado, sendo que os produtos mais vendidos têm sido "os mais directamente relacionados com as necessidades desta época: brinquedos, decorações e produtos alimentares".

O impacto da situação económica sente-se no maior cuidado com que os clientes fazem as suas compras. Na Fnac, por exemplo, "os consumidores são mais prudentes e ponderam mais as compras, comparando preços e fazendo mais perguntas", acrescenta Viriato Filipe. A maior atenção dos portugueses ao planeamento dos produtos que vão adquirir também se verifica no El Corte Inglés: "Há menos compras por impulso", indica por seu turno Susana Santos, que refere que "o volume de compras mantém-se o mesmo, mas o tempo médio dispendido é menor".

No entanto, ainda é cedo para afirmar que os números aparentemente acima do que se poderia esperar, face às notícias de retracção do consumo dos últimos meses deste ano, signifiquem que os portugueses vão continuar a gastar, alimentando a economia. Poderá mesmo significar exactamente o contrário, alerta o vice-presidente da Confederação de Comércio e Serviços, Vasco Mello: a verdade é que muitos portugueses estarão a aproveitar os últimos dias do ano para adquirirem produtos que vão aumentar de preço a partir de 1 de Janeiro, devido à subida do IVA de 21 para 23 por cento, disse este responsável ao PÚBLICO.

Mais lojas a fechar

De uma forma geral, aliás, as unidades de comércio tradicional sentem que as compras de última hora não chegaram para compensar o aperto das bolsas. Vasco Mello sublinha que medidas como o aumento de impostos e a diminuição de salários em 2011, tal como as subidas já anunciadas dos preços dos transportes e da energia, estão a retrair as vendas desde Outubro passado e "a provocar o encerramento de cada vez mais lojas". "Ao contrário do que temos pedido, não se vêem medidas de incentivo ao consumo e ao mercado interno", lamenta o vice-presidente da confederação. Já o presidente da Associação de Comerciantes do Porto, Nuno Camilo, referiu à Lusa que "este Natal foi menos positivo que o do ano anterior".

Entretanto, são as próprias lojas que se desdobram em grandes promoções. Desde o último domingo, em alguns casos já desde os primeiros dias de Dezembro - ou seja, antes do início oficial da época de saldos, que decorre entre hoje e o final de Fevereiro - que as montras viradas para as ruas e nos centros comerciais repetem a palavra "promoções", em grandes letras e com reduções a condizer, que chegam até aos 50 por cento.

As grandes campanhas já começaram antes do Natal, para apelar à compra de mais prendas, mas os grandes descontos começam agora. Exemplos são as campanhas que esta semana replicaram a tradição do Black Friday, que remetem para uma tradição anglo-saxónica de grandes descontos na sexta-feira logo a seguir ao dia de Acção de Graças, que nesses dias provocam autênticas enchentes de consumidores nos Estados Unidos. Noutras grandes superfícies, a opção foi pela promoção dos produtos que mais se destacaram em 2010.

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