Críticas a Valente de Oliveira pela forma como decidiu fim do museu
Presidente da assembleia municipal demitiu-se há um mês da associação que geria o museu para poder votar, e desempatar, a polémica questão
Foi com o voto de qualidade do presidente, Valente de Oliveira, que a Assembleia Municipal do Porto aprovou, anteontem à noite, a dissolução da Associação [promotora] do Museu da Ciência e da Indústria (AMCI). A sessão ficou marcada pelas críticas da oposição de esquerda à intervenção do presidente da assembleia que "desempatou" esta questão, que mereceu 27 votos favoráveis do PSD e do CDS e 27 votos contra de PS, CDU e Bloco de Esquerda.
Em causa estava o facto de Valente de Oliveira ter intervindo no caso duas vezes, nos dois campos em que se decidia a questão. Foi vice-presidente, em representação da Associação Empresarial de Portugal (AEP), da direcção da AMCI (constituída pela AEP e pelo município do Porto), que, em Novembro, votou a favor da dissolução da associação e respectivo projecto museológico. E voltou a votar a questão em nome do outro sócio da AMCI, o município, enquanto presidente da Assembleia Municipal do Porto, e exercendo o respectivo voto de qualidade. Quando introduziu este ponto da agenda, que já fazia adivinhar que dividiria a assembleia, Valente de Oliveira avisou que se demitira há um mês da direcção da AMCI. Sugerindo, assim, que estaria em condições de participar na votação.
Artur Ribeiro, da CDU, foi o primeiro a atacar. "Acho que não é muito correcto que tenha apunhalado a associação ao mesmo tempo que vem aqui espetar o resto do punhal. É pouco ético, não é correcto, a pessoa é a mesma", disse, referindo-se ao dirigente da AMCI e ao presidente da assembleia municipal.
Valente de Oliveira não reagiu e foi o PSD a formular um protesto, com Paulo Rios de Oliveira a tomar a palavra: "Há pessoas maiores do que os cargos que ocupam. Valente de Oliveira não precisa da assembleia municipal para ser reconhecido. Pôr em causa os seus princípios éticos é injusto, deslocado, não dignifica quem o faz." Mas Artur Ribeiro respondeu que tinha "muito respeito" por Valente de Oliveira, mas manteve a crítica. E Gustavo Pimenta, do PS, foi pelo mesmo caminho: "A sua posição é incómoda, e ficar-me-ia por aqui", disse a Valente de Oliveira.
O presidente da câmara, Rui Rio, garantiu aos deputados que a AMCI tentou angariar outros sócios que viabilizassem o projecto do museu, cuja reabertura foi várias vezes anunciada. O acervo deste foi retirado das antigas Moagens Harmonia, no âmbito da concessão do vizinho Palácio do Freixo ao Grupo Pestana, que abriu uma pousada nos dois edifícios em 2009.