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Juiz liberta Assange mas decide mantê-lo detido à espera de um recurso

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O fundador da WikiLeaks fotografou-se a si próprio no interior do carro celular que o conduziu ao tribunal (em cima). Apoiantes de Assange concentraram-se à porta do tribunal apelando à sua libertação (à esquerda). Entre os manifestantes estiveram várias celebridades como Bianca Jagger (em baixo) CARL COURT/AFP

Figuras conhecidas como o realizador Michael Moore juntaram-se para pagar a caução do australiano. As autoridades suecas não querem que seja libertado

Foi uma vitória para Julian Assange, mas mesmo assim com sabor amargo, devido ao zelo que as autoridades suecas estão a pôr nas queixas de violência sexual que duas mulheres apresentaram contra o editor do site WikiLeaks. Se ao início da tarde o juiz Howard Riddle decidiu libertá-lo sob caução, ao fim da tarde, o juiz decidiu que ele ficaria mais 48 horas na prisão de Wandsworth, à espera que a acusação apresentasse um recurso. "Isto está mesmo a tornar-se num julgamento-espectáculo", disse Mark Stephens, um dos advogados de Assange.

Mas são os próprios defensores de Assange que fazem questão de transformar o caso num espectáculo. A comparência de Assange no Tribunal nº1 da City de Westminster suscitou um interesse mediático digno de uma estrela de rock.

Na sala de audiências estiveram Bianca Jagger, a angariadora de fundos para várias causas Jemima Khan, o realizador Ken Loach, Fatima Bhutto, a sobrinha da ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto, Henry Porter, director da edição britânica da Vanity Fair, o escritor e activista Tariq Ali, ou a jornalista Heather Brooke, que revelou as despesas abusivas dos deputados britânicos.

O dinheiro das estrelas

Várias figuras conhecidas tinham prometido dinheiro para pagar a fiança de Assange, se lhe fosse concedida, até ser processado o pedido de extradição feito pela Suécia. O juiz estipulou-a em 200 mil libras mais um depósito de 40 mil (no total 282.255 euros). E só será libertado quando o dinheiro estiver todo reunido - se o recurso for recusado.

O realizador norte-americano Michael Moore foi um dos que prometeu contribuir, com 20 mil dólares (14.936 euros). Logo que se soube que o juiz se tinha decidido pela liberdade condicionada (ao contrário do que aconteceu no dia 7, quando Assange não forneceu nenhum endereço no Reino Unido), Moore lançou logo mensagens no site de microblogging Twitter. "Vou enviar já hoje o dinheiro. @WikiLeaks [a fiada de conversa no Twitter que se transformou numa verdadeira campanha por Assange e pelo WikiLeaks, contra a reacção de Washington após a divulgação dos telegramas diplomáticos] salvou vidas."

As condições sob as quais Assange seria libertado incluíam o uso de pulseira electrónica, a entrega do passaporte às autoridades britânicas, que tenha residência controlada (uma mansão na região de Suffolk oferecida por um jornalista abastado) com um horário limitado de saída (tem de estar em casa entre as 10h e as 14h e as 22h e as 2h). Terá de se apresentar numa esquadra todos os dias às 18h e voltar a tribunal a 11 de Janeiro.

"Ofensas sérias"

Mas a acusação vai contestar a decisão do juiz. "Este caso não é sobre a WikiLeaks, é sobre alegadas ofensas sérias contra duas mulheres", disse a advogada Gemma Lindfield, que está a agir em nome da acusação sueca. Defende que as acusações feitas a Assange são sérias e que há reais possibilidades de fuga, até porque ele tem ligações ténues ao Reino Unido e possui "os meios e a capacidade para se evadir", cita-a o The Guardian.

A posição da defesa é a de que os crimes de que Assange é suspeito - não há ainda uma acusação formal, as queixas estão a ser investigadas - não existem na lei do Reino Unido. Na Suécia, são a forma mais leve de violação que a legislação daquele país considera. "Duvidamos de que esta categoria de violação seja considerada como tal na lei inglesa", disse Geoffrey Robertson, o advogado de Assange que defendeu o seu caso perante o juiz Riddle.

Uma mulher sueca acusa Assange de a ter forçado a ter relações sexuais sem preservativo - ou depois de o preservativo se ter rompido - contra a sua vontade. Outra acusa-o de ter mantido com ela relações sexuais sem preservativo, quando estava ainda meio adormecida, depois de na noite anterior terem feito sexo consensual (com preservativo). As autoridades suecas querem Assange em Estocolmo para colaborar com o inquérito e por isso pediram à Interpol que emitisse um mandado de captura internacional e, agora que foi detido no Reino Unido, a sua extradição.

Ao abrigo da Ordem de Detenção Europeia, Assange poderá ser extraditado para outros países, como os Estados Unidos. A Suécia tem um acordo de extradição assinado com Washington desde os anos 1970, adianta o El País - mas não contempla pessoas que possam ser julgadas ao abrigo da lei de espionagem ou outra legislação para proteger a segurança nacional.

Nos EUA, no entanto, uma sondagem Washington Post/ABC revela que 59 por cento dos americanos gostariam de ver o seu Governo prender o fundador da WikiLeaks e acusá-lo de ter divulgado as comunicações do Departamento de Estado.

Mas há um fosso geracional: um terço dos que têm menos de 29 anos diz que a divulgação serve o interesse público. Quanto a Assange ser um criminoso, os mais jovens estão divididos: 45 por cento acham que há matéria criminal, 46 por cento acham que não. Já os inquiridos que têm mais de 30 anos não têm dúvidas de que Assange cometeu um crime.

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