Bolhão pode não entrar em obras em 2011, admite Câmara do Porto
PS critica falta de investimento no mercado, CDU classifica de "escandalosa" realização das corridas da Boavista
O orçamento da Câmara do Porto para 2011 foi ontem aprovado na reunião do executivo, com os votos contra do PS e da CDU. Os socialistas saíram do encontro preocupados com a perspectiva de o Mercado do Bolhão não vir a ter qualquer obra relevante no próximo ano. A maioria PSD/CDS admite que, com os atrasos já sofridos, e os prazos a cumprir, os 900 mil euros inscritos para intervenções naquele equipamento até podem ser um valor "um pouco excessivo" para o exercício de 2011.
Nenhuma das oito propostas que o PS levou para a reunião de ontem foi aprovada pelo executivo. Citado pela Lusa, o presidente Rui Rio garantiu que até "estava de acordo com quase todas" - a excepção seria a extinção da Apor - Agência para a Modernização do Porto e da Fundação Porto Social -, mas que a sua aceitação representaria "rebentar com o orçamento".
Ainda antes de conhecidas estas declarações, Correia Fernandes já garantira que as propostas sugeridas "não eram de despesismo" para a câmara, tendo mesmo desafiado o autarca a "fazer as contas" da sua aplicação. A maior preocupação dos socialistas, após a discussão do orçamento, era o Bolhão.
Correia Fernandes disse ser "muito preocupante" a "indisponibilidade" de- monstrada pelo executivo "para dotar o Bolhão de mais dinheiro". O sinal deixado para a cidade, nesta matéria, é, para o PS, claro: "É óbvio que da parte da câmara não há interesse absolutamente nenhum em fazer andar este processo", afirmou.
Em resposta a esta crítica, o gabinete de comunicação da autarquia explicou que só há pouco mais de um mês é que foi possível, legalmente, contratar a execução dos projectos de especialidades para a reabilitação do mercado. E ao tempo necessário para os fazer acrescentou os oito meses que, no mínimo, demorará o concurso público internacional para a empreitada. Assim, e mesmo que não haja nova contestação judicial, como "a obra não começa de imediato", o município assume que pode, de facto, não vir a utilizar a totalidade dos 900 mil euros no próximo ano.
Rui Sá admite que a situação do mer- cado também o preocupa, mas para o comunista o verdadeiro calcanhar de Aquiles do orçamento de Rui Rio é a indicação de que as corridas do circuito da Boavista "vão ser feitas". Sá disse ter saído da reunião com a certeza de que o evento irá acontecer, o que considera "escandaloso, num ano de profunda crise, com a imposição de fortes restrições" e quando se sabe que, na última edição, o circuito "representou 800 mil euros de prejuízo para a câmara".
O comunista acusa ainda a maioria PSD/CDS-PP de colocar como prioritárias, nas intervenções na via pública, a reabilitação do troço poente da Avenida da Boavista e o alargamento do es- tacionamento a nascente do Parque da Cidade, por causa da prova. "Isto não são obras para a cidade, são obras que devem ter sido exigidas para que as corridas pudessem acontecer e isto é o mais escandaloso de tudo", defende.
Rui Sá classificou também a Fundação Porto Social como "um sorvedou- ro de dinheiro"- à semelhança da crítica que já fora feita à Porto Lazer -, pelo facto de a empresa manter um orçamento muito próximo ao de 2004, quando geria o programa Porto Feliz. "Em 2004, recebeu 1,5 milhões. Agora, tem orçamentados 1,250 milhões, sem actividade consentânea com este valor. Aliás, 70 por cento desta verba é para custos com o pessoal. É um escândalo."