Abertura da barra na Fuzeta custou quase um milhão de euros e tem futuro incerto

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Pescadores dizem que foi "dinheiro atirado ao mar" RUI GAUDÊNCIO

Pescadores dizem que é "dinheiro deitado ao mar" e queixam-se da falta de segurança. Obras surgiram na sequência do temporal de 2009, quando o mar derrubou 38 casas de veraneio

A abertura de uma nova barra da ilha da Fuzeta, mandada efectuar pela Sociedade Polis da Ria Formosa, não oferece condições à navegação, queixam-se muitos pescadores da zona. "Neste momento há um processo de adaptação da própria barra ao sistema que vai evoluir, e vamos averiguar a sua funcionalidade", respondeu ontem a presidente da Sociedade Polis da Ria Formosa, Valentina Calixto, depois de visitar o local.

"É dinheiro atirado ao mar", garante José Domingos, pescador, 68 anos de idade. "Já vi o mar abrir e fechar quatro barras nesta zona." A intervenção, decidida após os temporais do ano passado - quando o mar derrubou 38 casas de férias na ilha -, custou cerca 980 mil euros.

Valentina Calixto reconhece que o trabalho está incompleto. "Vamos verificar se é necessário efectuar ainda alguma remoção de areias, de forma a tornar a saída da barra ainda mais segura". Um outro pescador, Jorge Gaspar, de 30 anos, assegura que não consegue atravessar o canal quando a maré está vazia. A presidente da Polis admite que há bancos de areia que dificultam a navegabilidade e que faz falta a sinalética adequada. "O sistema está ainda em adaptação", diz.

Quando chegar o próximo temporal, prevê José Domingos, "desaparece isto tudo, e o dinheiro que foi gasto não serviu para nada".

O programa Polis da Ria Formosa tem um orçamento de 87,5 milhões de euros para "minimizar" os efeitos do desordenamento de uma parte do litoral algarvio. Até final de Dezembro a sociedade prevê concluir os estudos sobre o modo como defender e valorizar 48 quilómetros de orla costeira e 57 quilómetros de frente lagunar. Porém, a forte ondulação do Inverno de 2009 antecipou a demolição das casas de veraneio da ilha da Fuzeta.

Nessa altura o mar rompeu o cordão dunar no mesmo sítio onde já tinha existido uma barra há mais de meio século. Logo a seguir, a Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH) e a Polis, apoiadas por estudos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil e da Universidade do Algarve, fecharam essa barra, e abriram agora uma outra, só com dragagens, mais a nascente. Questionada sobre a sustentabilidade desta obra, Valentina Calixto admitiu que não há certezas: "A evolução e as dinâmicas deste sistema estão estudadas, mas os temporais são imprevisíveis."

Os pescadores defendem que a permanência do canal só poderá ser garantida com engenharia pesada, colocando pedras para suster as areias. "Do ponto de vista técnico é desaconselhado, do ponto de vista legal não é possível", contrapõe a também presidente da ARH.

Francisco Matias, pescador, 82 anos, diz que conhece a costa como as suas mãos. "Se não puserem ali pedras, a barra anda para um lado e outro - sempre foi assim, não vale a pena andarem com invenções." Valentina Calixto diz que os técnicos vão fazer o acompanhamento da barra e as necessárias "adaptações", tendo em conta as sugestões de quem anda no mar. "Os temporais de Inverno vão ditar um conjunto de ajustamentos a esta abertura da barra - ela vai alargar com certeza, pode ter ali alguma mobilidade, e é isso que é a adaptação." A segurança, afirma, foi o motivo invocado para fechar a barra criada naturalmente. "Não oferecia segurança, não oferecia a possibilidade de compatibilizar os usos que pretendemos para este local com a segurança dos banhistas. Danificou um conjunto de viveiros e criou fragilidades na zona frontal ao espaço urbano da Fuzeta."

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