Benfica sai de gatas e a lutar pela Liga Europa

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O primeiro golo do Hapoel, festejado por Zahavi Nir Elias/Reuters

A viagem a Israel começou com o sonho da qualificação aos oitavos-de-final e terminou em pesadelo com a eliminação da Liga dos Campeões. O Benfica repetiu o que havia feito em seis ocasiões anteriores (1992, 1999, 2004, 2005, 2007 e 2008) e deixou fugir a hipótese de imitar os dois anos em que conseguiu atingir os quartos-de-final (1995 e 2006). Pior: a derrota pesada em Telavive ante o Hapoel por 3-0, deixa os “encarnados” em risco de falhar a Liga Europa, luta essa que será feita precisamente no ombro-a-ombro com os israelitas na derradeira jornada — na Luz com o Schalke.

A formação de Jesus começou a deixar escapar a qualificação no jogo da Luz frente ao Lyon. Aqueles últimos vinte minutos foram fatais, do 4-0 para 4-3, os golos de Gourcuff (74’), de Gomis (85’) e de Lovren (90’ + 5’) tiraram as hipóteses de os benfiquistas poderem discutir a passagem aos “oitavos” em caso de igualdade pontual com a equipa francesa – o critério de desempate são os golos entre as equipas empatadas e o Lyon havia vencido em casa, por 2-0.

Em Israel, fechou-se a porta definitivamente. E da maneira mais cruel. O Benfica foi sempre mais equipa, mas falhou nos dois capítulos principais. Na abordagem infantil à partida (faltou maturidade) e na eficácia em frente à baliza (faltou pontaria). Enquanto na Alemanha o Schalke ia ultrapassando facilmente o Lyon para chegar ao topo do Grupo B e apertando as contas para os “encarnados”, em Telavive os benfiquistas foram dominando quase todos os aspectos do jogo.

Teve mais do dobro dos ataques, 24 contra 10, foi mais rematador 10 face aos quatro do adversário e teve uma avalanche de cantos (21-2). Apesar de ter tido mais posse de bola, o Benfica não soube aproveitar.

“O Hapoel passou o nosso meio-campo três vezes e fez três golos”, disse Jesus no final. A frase parece demasiado óbvia. E redutora para o técnico que disse querer ser campeão europeu mal se viu com o título nacional na mão, em Maio deste ano. “Aquilo que se passou aqui dentro foi uma coisa e o resultado foi outra”, reafirmou ainda.

O golo de Zahavi foi contra a corrente do jogo e o de Douglas, no segundo tempo, voltou a sê-lo. Antes, Shay Abutbul – entre os minutos 53 e 56 – salvou duas bolas em cima da linha de golo. E Kardec fez o que um ponta-de-lança não pode fazer, que é falhar um golo na pequena área sem oposição. Tudo isto foi aniquilando a equipa, impotente para segurar um adversário frágil que começou preso na mão e lhe fugiu entre os dedos.

Eran Zahavi é um herói local desde que há um ano, uma época de ouro do Hapoel com a conquista da Taça de Israel e do campeonato, foi decisivo no jogo crucial para a decisão do campeão – o seu golo aos 92 minutos ao Beitar e em Jerusalém deu-lhe o estatuto que faltava. Marcar no território inimigo foi ouro sobre o vermelho que os equipa. A claque “Ultras Hapoel” não esqueceu e lembrou que ver o seu capitão muçulmano Walir Badir erguer o troféu frente aos adeptos racistas foi o momento mais perfeito de sempre, para eles os “árabes” de Jafa. Ontem, voltou a fazer um golo a abrir e a fechar a noite. E foi apenas o terceiro na história do clube a fazê-lo nesta competição.

Não é uma história nobre esta. Depois da derrota na Luz, no primeiro jogo da Champions, perdeu os dois jogos seguintes por 3-1. Para o registo ficaram os dois golos marcados: o primeiro pelo guarda-redes Enyeama, de penálti ao Lyon; o segundo, a saber a derrota ante o Schalke, por Etey Shechter. Agora foi a vez de Zahavi e Douglas. A estatística podia ter avisado o Benfica. No anterior embate em Israel, os “encarnados” saíram a perder por 4-2 frente ao Beitar, mas a equipa de 199899 treinada por Souness havia goleado 6-0 na primeira mão.

Desse duelo, sobram ainda dois resistentes. Foi Nuno Gomes que converteu o penálti na noite de Lisboa a vergar o Beitar na Luz com o sexto golo. E foi ele que abriu o marcador em Jerusalém, mas aí saiu a perder. O Yossi Abuksis também esteve presente nessas duas noites de Agosto e foi ele a fechar a eliminatória com o último golo. Ontem, sentou-se no banco como adjunto de Eli Gutman. E viu a sua equipa alcançar a primeira vitória da história na Champions.

Positivo
Vincent Enyeama

É um guarda-redes sui generis. Foi ele que marcou o primeiro golo do clube nesta prova (de penálti) e ontem ainda teve a arte de parar (quase) tudo o que foi à baliza.


NegativoKardec

O ataque esteve um desastre. Na pontaria o pior momento foi do brasileiro, que teve o 1-1 na cabeça. Cardozo entrou e não fez melhor. Nem ele nem ninguém (zero golos em 18 remates e 21 cantos).


Defesa Benfica

Teve pouco trabalho é certo, mas mesmo assim foi incapaz de impedir três golos do Hapoel. Mais até do que os dois que encaixou quando foi a Lyon (2-0) e a Gelsenkirchen (2-0).


Ficha de jogo

Hapoel Tel-Aviv 3
Benfica
0

Estádio Bloomfield, em Telavive. Cerca de 13 mil espectadores.

Hapoel Tel-Aviv

Eneyama, Bondaru, Douglas da Silva, Fransman, Ben Dayan, Vermouth, Yadin, Abutbul (Badier, 78’), Zahavi, Shechter (Shivon, 57’) e Tamuz (Ben Sahar, 66’).


Treinador:

Eli Gutman

Benfica

Roberto, Maxi Pereira, Luisão, David Luiz, Fábio Coentrão, Javi Garcia (Jara, 79’), Salvio (Carlos Martins, 66’), Aimar, Gaitán, Saviola (Cardozo, 46’) e Kardec.


Treinador:

Jorge Jesus

Árbitro:

Alain Hamer de Luxemburgo.

Amarelos:

Saviola (28’), Ben Dayan (33’), Yadin (43’) e Fransman (52’).

Golos

1-0, por Zahavi, aos 24’;


2-0, por Douglas da Silva, aos 74’;


3-0, por Zahavi, aos 90+2’.


Notícia actualizada às 22h44
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