Torne-se perito

Perguntas difíceis dos jovens que não vieram fazer turismo

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Paredes e salas separaram os jovens dos líderes da NATO Miguel Manso

Estão a poucos metros dos líderes mundiais, e nem os podem ver. Mas, tal como eles, os 250 jovens atlanticistas analisaram o actual papel da Aliança

Mal o secretário-geral da NATO acaba de falar, Eyal Raviv salta da cadeira e coloca-se junto ao microfone da frente para garantir que é o primeiro a fazer uma pergunta. Incomodativa. O jovem israelita, fundador da rede online pela paz Mepeace, quer saber se a NATO está disposta a ajudar Israel e a Palestina a entenderem-se.

Raviv procurava, diz depois ao PÚBLICO, com ar desiludido, uma resposta do "cidadão Rasmussen", mas acabou por receber a do "Rasmussen secretário-geral": primeiro é preciso um acordo de paz, depois que Israel e a Palestina peçam ajuda e que as Nações Unidas aceitem a intervenção da aliança, disse o responsável máximo da NATO. Demasiadas condicionantes, contabiliza Eyal Raviv, que preferia ouvi-lo comprometer-se que "iria investir pessoalmente na possibilidade de contribuir para um cenário de paz no Médio Oriente". "Nós precisamos da sua ajuda e não sei se a vamos obter."

Valeriy Kravchenko, da Ucrânia, e Gvantsa Kvinikadze, da Geórgia, dois Estados que estão às portas da NATO, têm dúvidas sobre o que os seus países podem esperar da nova Aliança, que se reestrutura em Lisboa. Rasmussen diz-lhes que a organização os quer acolher, mas há critérios a preencher.

Há quem tenha vindo à cimeira dos Jovens Atlanticistas, que se realiza à margem do encontro da Aliança, à procura de respostas sobre o futuro da NATO, alguns com dúvidas sobre a real eficácia da política da organização. Não vieram a Lisboa fazer turismo: queixam-se da chuva de ontem e da limitação de tempo por causa de uma agenda de conferências que os preenche das 9h às 18h. Mas o currículo e os conhecimentos saem reforçados. Incluindo a rede de amigos no Facebook, que muitos actualizam até mesmo durante as conferências, com fotos e comentários.

Bernardino Gomes conhece quase todos os 60 jovens vindos de países da NATO e Estados parceiros. Foram 600 os que encaixavam no perfil que a organização procurava, quando receberam as respostas ao concurso internacional. "Escolhemos os melhores, fizemos centenas de entrevistas por telefone", conta o presidente do Comité Português do Atlântico. Há investigadores de áreas ligadas à política internacional e defesa, advogados, jornalistas, assessores políticos e de organizações internacionais, do Canadá à Lituânia, da Serra Leoa aos Estados Unidos, do Egipto à África do Sul, de Inglaterra à Macedónia.

Os portugueses foram escolhidos nas universidades e depois convidaram-se mais 25 de áreas profissionais ligadas à política internacional, incluindo jovens líderes políticos. Como Michael Seufert e João Almeida, deputados do CDS. Além de poder "saber mais sobre o que está em discussão no novo conceito estratégico", para este último é uma oportunidade para conhecer "em maior detalhe qual é o papel da NATO no mundo". Por exemplo? O que se passa no Afeganistão, "realidade da qual muitas vezes temos uma opinião muito parcial".

Ontem passaram pela cimeira altas patentes militares que estão no terreno, como o general David Petraeus, actual comandante da ISAF - International Security Assistance Force estacionada no Afeganistão. "São pessoas que estão na primeira linha da intervenção e que vêm falar connosco com grande disponibilidade e abertura. E recebem perguntas difíceis, de pessoas que mostram não estar ali para bater palmas, mas para questionar e debater", comenta João Almeida, que saúda o facto de a "selecção não ter tido a intenção de escolher só os jovens que já estavam convencidos [das vantagens da NATO]".

O interesse da búlgara Silva Kantareva na NATO começou quando foi espectadora próxima da actuação da Aliança na região do Leste Europeu. "Sentimo-nos parte da Europa de novo", diz, em jeito de agradecimento, a jovem morena que em Janeiro vai começar uma bolsa na NATO. Acredita no novo conceito globalizante e de parcerias da Aliança e, como já trabalhou com as Nações Unidas, gostaria que as duas organizações fossem aliadas ainda mais próximas - sobretudo num "cenário em que as ameaças são cada vez mais globais".

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