A Espanha não mudou nada, Portugal mudou quase tudo

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Ronaldo continua a ser a principal figura da selecção portuguesa Foto: Pedro Cunha

Hoje, quatro meses depois da Espanha futura campeã mundial ter eliminado Portugal com uma autoridade que o resultado (1-0) não denuncia, o Estádio da Luz será palco de mais um confronto entre as nações ibéricas, unidas por uma candidatura aos Mundiais 2018/2022, mas separadas nas suas etapas de construção: uma é uma equipa feita e é a melhor do mundo; a outra está à procura de uma nova identidade e procura recolocar-se entre as melhores do mundo. Uma tem o mesmo treinador, os mesmos jogadores e a mesma táctica. A outra tem um treinador diferente que tem uma táctica semelhante, mas com intérpretes diferentes.

Não haverá muito, ou nada mesmo que mudar, numa equipa que foi campeã do mundo. Era um título anunciado desde 2008, quando, ainda sob o comando de Luis Aragonés, foi campeã da Europa na Áustria e na Suíça. Vicente del Bosque mostrou que era o homem certo no sítio certo à hora certa e manteve-se no posto, não lhe acontecendo como no Real Madrid, em que foi despedido (para dar lugar a Carlos Queiroz) depois de ter sido campeão. E nenhum dos jogadores espanhóis campeões, nem os mais veteranos como Puyol, Capdevilla ou Xavi, pensou em retirar-se.

Pelo contrário, a selecção portuguesa saiu em farrapos do torneio africano e o que se seguiu precipitou a mudança quase total. Saiu Carlos Queiroz e entrou em cena Paulo Bento, que recuperou a selecção de um buraco ainda maior, a qualificação quase perdida para o Euro 2012. Bento provou ser uma boa solução no imediato. Entrou, fez mudanças e a selecção voltou a ganhar e reentrou na luta pela qualificação.

A selecção está melhor do que estava naquele jogo na Cidade do Cabo em Julho passado. A consolidação táctica, com tão pouco tempo de trabalho, só virá depois, mas já são bastantes as mudanças. Mantém-se a aposta em Eduardo (com Rui Patrício na sombra), mas as alterações são mais visíveis na defesa. No lado direito, Queiroz testou três soluções (Miguel, Paulo Ferreira e Ricardo Costa) e até iria testar mais uma (Rúben Amorim), não fosse a lesão do polivalente jogador do Benfica; Bento promoveu dois candidatos credíveis (João Pereira e Sílvio) até ao regresso de Bosingwa, o provável dono do lugar.

No centro da defesa, acabou com a adaptação de Pepe ao meio-campo e fê-lo regressar ao seu lugar natural para jogar ao lado de Ricardo Carvalho, aproveitando o entrosamento que os dois estão a ganhar no Real Madrid, e relegando Bruno Alves para terceira opção. Fábio Coentrão como defesa-esquerdo é descoberta de Jorge Jesus bem aproveitada por Queiroz na selecção e em que Bento não toca - será hoje forçado a isso, devido à lesão do benfiquista, com recurso a Miguel Veloso ou Bosingwa.

O meio-campo, com a retirada de Deco, também sofreu mudanças. Enquanto Pedro Mendes não regressa (se regressar), Raul Meireles é o médio mais recuado, tendo ao lado dois jogadores que não estiveram entre os 23 de Queiroz para a África do Sul, João Moutinho e Carlos Martins. Ronaldo, como "estrela" da equipa e co- mo capitão, não muda e a selecção continuará a depender muito da sua inspiração, mas já terá a companhia de Nani, que falhou o Mundial por lesão - já não há Simão, que se retirou, mas haverá Varela, quando estiver bom, e Danny - e de Hugo Almeida como primeira opção. Isto no caso de Portugal jogar apenas com um ponta-de-lança. Se for com dois, pode avançar Ronaldo, mas também Liedson, o recuperado Hélder Postiga, ou até Nélson Oliveira, Carlos Saleiro e Orlando Sá, como Bento reconheceu ontem.

Quanto à Espanha, o seu "onze" provável é o mesmo que defrontou Portugal no Mundial. Afinal, não há nenhuma razão para Del Bosque mudar o que resulta no presente, uma equipa construída à base do entendimento do meio-campo do Barcelona (Busquets, Iniesta e Xavi), mais o conhecimento mútuo dos centrais (Puyol e Piqué), a segurança de Casillas na baliza e a capacidade goleadora de Villa e Torres. "Don" Vicente não recuou nas suas ideias quando a Espanha, no seu primeiro jogo após o Mundial, empatou em Agosto com o México (1-1), nem quando perdeu em Setembro com a Argentina pós-Maradona (4-1), em Buenos Aires. O que muda hoje é o equipamento, que terá, pela primeira vez por cima do emblema da Real Federação Espanhola, o símbolo de campeão mundial de futebol: uma estrela.

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