Cientistas aprisionaram átomos de antimatéria no CERN

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Aniquilação de anti-hidrogénio na experiência ALPHA Niels Madsen ALPHA/Swansea

O escritor Dan Brown imaginou uma bomba de antimatéria, que faria explodir o Vaticano. O que tornava impossível a ideia é que a antimatéria, quando entra em contacto com os átomos da matéria normal, de que somos feitos nós e o nosso mundo, se aniquila, puf, desaparece. Mas agora uma equipa internacional que trabalha no CERN relata ter conseguido aprisionar, embora apenas durante décimos de segundo, alguns átomos de anti-hidrogénio.

A bomba de Dan Brown ("Anjos e Demónios", Bertrand ) era feita com átomos obtidos no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), a gigantesca instalação científica sob a fronteira entre a Suíça e a França onde se investiga a natureza mais ínfima da matéria. Nisso o escritor norte-americano baseava-se na realidade. Mas o que os cientistas lá fazem, utilizando o acelerador de partículas circular e subterrâneo, com 27 quilómetros de circunferência, não tem nada a ver com ideias loucas de rebentar com o mundo.

A equipa internacional que trabalha na experiência ALPHA, que publica os seus resultados na revista científica "Nature", relata ter conseguido aprisionar 38 átomos de anti-hidrogénio durante pouco mais de um décimo de segundo — o que é muito pouco, mas ainda assim suficiente para poder ser estudado. Já para alguém pensar em criar uma bomba tanto a quantidade como o tempo de sobrevivência dos átomos de antimatéria é completamente insuficiente, sublinha um comunicado da Universidade da Califórnia em Berkeley, de onde é um dos investigadores da equipa.

A antimatéria é o retrato invertido da matéria: são idênticas, mas têm cargas eléctricas opostas, pelo que se aniquilam quando se encontram. Terão sido criadas em partes iguais no Big Bang mas, misteriosamente, a antimatéria desapareceu. "Por razões que ninguém compreende ainda, a natureza eliminou a antimatéria. Por isso é muito compensador, e até algo assustador, olhar para a experiência e verificar que contém átomos estáveis de antimatéria", disse Jeffrey Hangst, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, porta-voz da colaboração ALPHA, a equipa que trabalha nesta grande máquina do acelerador de partículas do CERN.

Para tentar compreender o que se passou com ela é preciso, antes de mais, ter alguns átomos com os quais fazer experiências — e é essa porta que se abre com as técnicas agora desenvolvidas. Os cientistas querem fazer medições, para determinar se pequenas diferenças nas propriedades da matéria e da anti-matéria poderão explicar por que é que a antimatéria desapareceu.

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