Eventual recurso da Irlanda ao fundo de socorro do euro incluirá Portugal

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Em contrapartida, a Espanha não deverá fazer parte deste “pacote”, mas terá, para isso, de proceder a um novo aperto da austeridade Foto: Thierry Roge/Reuters

Se a Irlanda acabar por se resignar a pedir o apoio do fundo de socorro do euro, não vai ser o único país a ser ajudado: Portugal será quase seguramente incluído no que poderá vir a ser um “pacote” comum aos dois países.

Este é o entendimento generalizado em Bruxelas numa altura em que cresce a especulação sobre as probabilidades de a Irlanda recorrer, ou não, ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) que foi criado em Maio num valor até 750 mil milhões de euros para socorrer os países em dificuldades de financiamento.

De acordo com um alto responsável europeu, que se exprimiu sob anonimato, Dublin está sob uma forte pressão de várias capitais para pedir a activação do fundo devido às suas dificuldades orçamentais abissais provocadas pela situação periclitante de vários bancos e recapitalização do Anglo Irish, que fez disparar o défice público deste ano para 32 por cento do PIB.

A mesma fonte deixou claro que se os irlandeses acabarem por pedir a activação do EFSF, Portugal será incluído no processo. “Se houver um programa [de ajuda à Irlanda] será para os dois países”, afirmou.

Em contrapartida, a Espanha não deverá fazer parte deste “pacote”, mas terá, para isso, de proceder a um novo aperto da austeridade.

O mesmo responsável deu a entender que a pressão virá igualmente do Banco Central Europeu (BCE), que começa a dar sinais de não poder continuar por muito mais tempo a financiar os dois países.

O governo irlandês de Brian Cowen tem desmentido firmemente qualquer pedido de ajuda à eurolândia, frisando que o país está financiado até meados de Junho. Algumas das outras capitais não parecem no entanto satisfeitas com a explicação, alegando que a situação desastrosa dos bancos coloca o país numa situação muito difícil que poderá pôr em risco a estabilidade do euro.

Jean-Claude Juncker, primeiro ministro do Luxemburgo reconheceu na semana passada a existência de contactos entre as diferentes capitais, embora “não públicos”.

As resistências do governo irlandês a um pedido de apoio à zona euro são interpretadas como uma tentativa de evitar a inevitável perca perder soberania que implica a activação do fundo, que colocará o país sob a tutela dos parceiros. Cowen teme, igualmente, que nesse cenário seja obrigado a subir a taxa de imposição sobre as empresas (IRC), cujo baixo nível tem sido central na atracção do investimento estrangeiro que explica grande parte do milagre económico do antigo Tigre Celta.

A questão deverá ser discutida o mais tardar amanhã entre os ministros das finanças da zona euro na sua reunião mensal, em Bruxelas.

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