Dentro de dez anos, o cancro do pulmão será o mais mortal para as mulheres

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Em Portugal há cerca de 300 mil fumadoras Paulo Ricca

A Organização Mundial de Saúde (OMS) fala numa "atracção fatal" entre as mulheres e o tabaco. Os dados nacionais corroboram a tese: ainda que os indicadores nos homens continuem a ser bastante mais negros, o número de casos mortais de cancro do pulmão nas mulheres não pára de crescer. Nos últimos 20 anos, o número de fumadoras quase duplicou e, a manter-se esta tendência, em 2020 o cancro do pulmão poderá mesmo ser o mais mortal para as mulheres - ultrapassando as mortes por cancro da mama. Estima-se que Portugal tenha mais de 1,5 milhões de fumadores, dos quais perto de 300 mil serão mulheres.

Numa altura em que muitos estudos comprovam o "rastilho" directo que existe entre o tabaco e as várias patologias respiratórias, o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, recentemente apresentado no congresso da Fundação Por- tuguesa do Pulmão, vem alertar que todos os anos são diagnosticados 3500 novos casos de cancro do pulmão e que em metade dos casos a doença já é detectada em fase avançada, afectando outros órgãos.

Em 2008, o primeiro ano em que se registou uma ligeira redução para os homens, morreram 3681 portugueses com esta patologia oncológica - um aumento de quase 19 por cento face a 1999. Perto de 750 óbitos foram de mulheres, contra 1800 mortes por cancro da mama.

Internamentos disparam

"No caso dos homens, temos conse- guido reduzir a percentagem de fumadores, mas nas mulheres não pára de aumentar. Como os efeitos do tabaco muitas vezes só se revelam 20 ou 30 anos depois, e como em Portugal se começou a fumar mais tarde, estamos agora a sofrer as consequências. E, se mantivermos estes comportamentos, admito que dentro de dez anos as mortes por cancro do pulmão ultrapassem as da mama [nas mulheres]", diz ao PÚBLICO o especialista Artur Teles de Araújo, relator do documento.

"Em 2008, foram internados 6870 doentes com cancro do pulmão, o que significa um aumento de 22 por cento em relação a 2002", lê-se no relatório, que acrescenta: "A mortalidade por cancro do pulmão em Portugal é quatro vezes maior no homem do que na mulher. Todavia, a diferença tem vindo a estreitar-se face ao aumento do consumo de tabaco pelas mulheres".

Também Luís Rebelo, da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo, salienta que "o cancro, muitas vezes, é diagnosticado anos depois de ter começado a doença", pelo que acredita que, no caso das mulheres, os números fiquem cada vez mais negros - apesar de insistir que com boas campanhas é possível inverter essa realidade até 2020.

Por seu lado, investigadores do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto fizeram no ano passado um estudo que permitiu concluir que a mortalidade por cancro do pulmão estabilizou nos homens, mas está a crescer nas mulheres a um ritmo de 1,6 por cento ao ano. O cancro do pulmão é já um dos três mais prevalecentes na União Europeia, sendo responsável, devido ao seu mau prognóstico, por um quinto das mortes oncológicas.

A OMS está tão preocupada com esta nova realidade que vai dirigir as próximas campanhas para esta camada da população. A organização admitiu que "a magnitude do impacto do mar-keting desta indústria é indisputável" e comprometeu-se a combater a imagem de "glamour e sofisticação, estilo e luxo, sucesso, saúde e frescura" que muitos anúncios passam.

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