O lado mais sórdido da novela das Antas

A longa novela político-judicial do Plano de Pormenor das Antas (PPA) acabou esta semana. Da sentença sai um vencedor claro: Nuno Cardoso, que foi absolvido de todas as acusações. E um perdedor nítido: Rui Rio, que desde os primeiros dias do seu mandato escolheu o PPA, Nuno Cardoso e o FC Porto como exemplos de uma pretensa ordem velha e corrupta que se prestou a abolir na cidade. Passados estes anos, e olhando para o despacho final do tribunal, fica a perceber-se que muito pouco do que se insinuou fazia sentido, que o que estava em causa eram diferenças de conceito sobre o urbanismo do Porto, que se perdeu tempo e energia a tentar impor-se uma moralidade que, afinal, não tinha sustentação na lei.

O despacho legitima, afinal, o envolvimento político de Nuno Cardoso nas negociações de terrenos que permitiram a construção do Estádio do Dragão e das urbanizações circundantes. Face ao escasso tempo disponível até ao Euro 2004, toda a operação de permutas e compras de terrenos ficou marcada pelo voluntarismo e houve até facetas dos negócios que tinham de merecer o escrutínio público e político. Mas, desde os primeiros dias, o que se jogou em torno do PPA não foram opções nem instrumentos de gestão urbanística: foi a tentativa de se provar que Nuno Cardoso, e por arrastamento o PS desde a era de Fernando Gomes, era um mero pau-mandado de Pinto da Costa. Na nova moral de Rui Rio tinha de haver uma prova da "promiscuidade" entre a autarquia e o clube e o novo autarca fez tudo para a encontrar no PPA.

Para a posteridade, o que resta deste longo processo político e judicial é a sensação de tempo perdido. Rui Rio jamais teria aprovado o PPA e, sem dúvida, nunca teria intervindo a favor do interesse do FC Porto como Nuno Cardoso o fez. Mas esta é a boa divergência: saber se ajudando o FC Porto se estava a ajudar a cidade. Por muitas críticas que possa haver, hoje parece evidente que a cidade ganhou, e muito, com o PPA. E se, acessoriamente, o FC Porto também ganhou, daí não vem mal nenhum ao mundo - goste-se, ou não, o clube é o maior emblema internacional da cidade. Em vez de um debate sério sobre opções políticas, Rio, porém, decidiu entrar pela via judicial e, como se esperava, não podia ganhar apenas por suspeitar que Cardoso beneficiou intencionalmente o FC Porto. Precisava de provas que não mostrou. Para a memória futura, este lado do PPA será sempre mais sórdido do que o evidente excesso de volumetria que o plano autorizou.

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