Um terço dos investidores acredita que Portugal entrará em incumprimento

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Países periféricos do euro voltam a estar debaixo de fogo REUTERS/Susana Vera

Cerca de 38 por cento dos investidores dos mercados internacionais acredita na hipótese de Portugal entrar em incumprimento no pagamento da sua dívida, revela um inquérito da Bloomberg.

Portugal é o terceiro país de que os investidores mais desconfiam, a seguir à Grécia (onde 71 por cento aposta no incumprimento) e da Irlanda (51 por cento), de acordo com o inquérito conduzido junto de 1.030 clientes da agência económica, a 8 de Novembro.

São estes receios que têm estado por detrás da escalada dos juros da dívida pública portuguesa e irlandesa, que, ao longo desta semana, atingiu recordes históricos. Os mercados temem que Portugal e a Irlanda deixem de pagar a sua dívida e, por isso, estão a vender as obrigações do Tesouro que possuem a preços mais baixos do que aqueles que compraram e, portanto, a taxas de juro mais elevadas.

Hoje, a escalada dos juros da dívida portuguesa a irlandesa parece ter-se atenuado. As obrigações do Tesouro português a dez anos fecharam com taxas de sete por cento, enquanto as irlandesas desceram para os 8,5. A pressionar para baixo os juros terá estado a declaração conjunta que foi conseguida à margem do G20, na Coreia do Sul.

Os ministros das Finanças das cinco principais economias da União Europeias (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha) anunciaram que o novo mecanismo de estabilização financeira do euro, a instituir com carácter permanente, não entrará em vigor antes de 2013 nem afectará a situação dos credores actuais. Ou seja, os investidores que detêm actualmente dívida pública podem respirar de alívio pois, em caso de crises como a da Grécia, não terão de assumir um prejuízo.

Uma semana negra

No caso de Portugal, os juros das obrigações a dez anos começaram a semana abaixo dos sete por cento, o limite acima do qual o ministro das Finanças considerou há um mês que se tinha de começar a pensar em recorrer à ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Esta “barreira psicológica” foi logo ultrapassada na terça-feira, um dia antes de o Estado levar a cabo a sua última emissão de obrigações deste ano.

Pela frente restam ainda três emissões de dívida de curto prazo (bilhetes do Tesouro, com prazo máximo do ano), uma das quais se realiza já na próxima semana. Com estes leilões, o Estado espera arrecadar entre 1750 milhões de euros a 2750 milhões para completar as necessidades de financiamento de 2010.

No caso da Irlanda, as necessidades de financiamento já estão satisfeitas até ao próximo ano mas nem por isso os investidores têm dado tréguas à dívida do país. As obrigações irlandesas a dez anos iniciaram a semana abaixo dos oito por cento, mas acabaram por ultrapassar a marca dos nove por cento, um valor demasiado próximo dos 11 por cento que os mercados cobram para financiar o Estado grego. A situação do sector bancário irlandês, que está sob alçada do Estado e poderá precisar de mais injecções de capital, tem sido o principal motivo dos receios dos investidores.

Esta semana negra nos mercados, que chega hoje ao fim, foi quase uma reedição da crise da dívida soberana que atingiu a Europa na Primavera e obrigou a Grécia a recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Só que, ao contrário do que aconteceu em Maio, desta vez não é a Grécia que está mais na berlinda, mas sim a Irlanda e, por arrastamento, Portugal. Resta agora saber se estes países terão de fazer como a Grécia e recorrer à ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou vão conseguir reconquistar a confiança dos mercados.

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