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Um dia, o IDT será integrado no Serviço Nacional de Saúde

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"Nunca houve tanta gente em tratamento", diz o responsável do IDT daniel rocha

Era uma provocação de alguém que está no terreno e sente não poder dizer o que pensa, mas o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, não reagiu com repulsa. Chegará o momento de extinguir aquela estrutura e de a sua missão ser assumida pelo Serviço Nacional de Saúde. Parece-lhe, porém, prematuro pensar numa solução tão radical. Afinal, os jovens continuam a sentir forte impulso para o álcool.

O instituto responde pela prevenção, pelo tratamento, pela redução de danos e pela reinserção em matéria de drogas e de toxicodependências. "A área que consome a maior parte dos recursos é a do tratamento", refere Goulão. Ora, "o serviço vertical dedicado ao tratamento surgiu da incapacidade do serviço nacional de saúde de enfrentar a epidemia de heroína".

A heroína entrou em Portugal nos anos 1970 e propagou-se por todo o país. No pico da epidemia, em 1995, um por cento da população era dependente daquela substância. A realidade alterou-se. As estimativas que indicavam 100 mil heroinómanos indicam agora 50 mil. E estes 50 mil não estão abandonados à própria sorte. A maioria, afiança o médico, está em programas de tratamento ou de redução de danos.

O Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência (SPTT) e o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IPDT) nasceram contra aquela epidemia que semeava VIH, hepatites, tuberculoses. Com a sua fusão, em 2002, apareceu o IDT. Agora, há quem o veja como "um monstro".

O médico refuta a ideia de estrutura sobredimensionada: "Nunca houve tanta gente em tratamento" por álcool ou drogas ilícitas. Em 2008, o IDT tinha cerca de 38 mil pessoas em tratamento. No ano passado, atendeu 10.200 novos rostos, dois a três mil dos quais por consumo abusivo de bebidas alcoólicas.

"Trabalhamos para que a diminuição do problema [das drogas e das toxicodependências] venha a permitir a integração no Serviço Nacional de Saúde", assegura. "Há-de haver um momento em que isso seja possível, mas é cedo. Mais agora que também temos a responsabilidade do álcool. O problema do álcool não está com uma evolução positiva, como o das drogas ilícitas. O consumo abusivo de álcool é um problema em crescimento entre os jovens."

Há quem diga que, entretida consigo própria, a estrutura responde mal à mudança que ela própria ajudou a fomentar. Um exemplo? Muito por acção das equipas de rua, continua em queda o consumo de heroína pela via injectável. Muitos dos que se injectavam passaram a fumar ou a inalar. A partilha do tubo que usam pode transmitir infecto-contagiosas. Basta haver uma pequena ferida no nariz de um utilizador. Mas as equipas continuam a ter apenas kits com seringas, toalhetes desinfectantes, carteiras de ácido cítrico, filtros, recipientes, ampolas de água bidestilada.

A redução de danos e minimização de riscos é feita por organizações não governamentais, argumenta Goulão. "Temos grande abertura para projectos inovadores que sejam apresentados e que façam sentido", enfatiza. Muitas equipas de rua já distribuem papel de prata. E algumas até distribuem patilhas grossas para servirem de tubo. Há, ainda assim, quem afirme ter desenvolvido propostas de kit com cachimbo, a pensar em consumidores de heroína ou cocaína, e ter ficado sem resposta.

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