Solidão aumenta com a longevidade

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adriano miranda

Quando se vive mais tempo há um risco maior de se viver mais tempo sozinho. Dar-lhes um telemóvel parece uma solução menor, mas a socióloga Alice Matos diz que dá aos idosos "o poder da iniciativa"

a Apesar de ser uma região com uma estrutura demográfica jovem, o distrito de Braga regista 113 mil pessoas com mais de 65 anos. O envelhecimento da população não é uma novidade, mas associados a esse fenómeno têm surgido outros, como a solidão na terceira idade. "A população vive cada vez mais tempo, mas também vive mais tempo sozinha", explica a socióloga Alice Delerue Matos, professora da Universidade do Minho, que se tem dedicado ao estudo do envelhecimento da população.

"Há idosos que vivem muito tempo viúvos, sobretudo as mulheres, porque têm uma esperança de vida superior", prossegue a especialista. De acordo com Alice Matos, uma investigação feita no ano passado permitiu perceber que a solidão é vista como um problema pela maioria dos idosos. "Todos se queixam desse facto", conta, atribuindo esse sentimento mesmo àqueles que mantêm contacto frequente com os familiares e que não perderam as suas redes de solidariedade.

"Os filhos têm de trabalhar e a verdade é que estas pessoas passam muito tempo sozinhos em casa", avalia a investigadora da Universidade do Minho.

Garantir a autonomia

Desde há duas ou três décadas que pais e filhos passaram a viver cada vez menos na mesma casa, um processo que se verificou um pouco por toda a Europa e que, apesar de ter chegado mais tarde a Portugal, também se faz sentir no nosso país. E esse é mais um factor a contribuir para a solidão da população idosa.

Alice Matos elogia, por isso, o programa ISIM do Governo Civil de Braga: "Parece-me uma boa medida. Vai permitir aos idosos estarem em contacto com os familiares." A socióloga destaca sobretudo a autonomia proporcionada pela iniciativa. O telemóvel "dá-lhes o poder de tomar a iniciativa", explica, porque a fragilidade económica desta população faz com que se inibam muitas vezes de fazer telefonemas. "Ficam à espera que lhes liguem e isso aumenta a solidão de que grande parte deles já se queixa", sustenta esta docente universitária.

No distrito de Braga, 20 por cento dos idosos são beneficiários do Complemento Solidário para Idosos (CSI), o que faz desta uma das regiões com maior penetração deste apoio estatal. O número é insuflado pelo trabalho da rede de IPSS e das autarquias, que têm insistido com a população para que adiram ao programa, e também do próprio Governo Civil, que tem aproveitado as sessões de entrega de telemóveis para alertar dos benefícios associados ao CSI, como as comparticipações na compra de medicamentos e as despesas com oftalmologia e dentistas.

Mas este valor não deixa de ser esclarecedor da fragilidade da população idosa do distrito. É para eles que se destina o programa ISIM e o facto de não haver custos associados à iniciativa "faz todo o sentido" para Alice Matos. "Uma das dificuldades dos idosos é a debilidade económica. Esta é uma população que vive muito perto e, por vezes, abaixo do limiar da pobreza", sublinha.

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