Hu Jintao em França para falar de negócios e ultrapassar o “efeito Dalai Lama”

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Hu Jintao e Nicolas Sarkozy no Eliseu Philippe Wojazer/Reuters

Faltavam poucas horas para o Presidente Hu Jintao aterrar em Orly quando o seu homólogo e anfitrião Nicolas Sarkozy declarou: “A China não deve ser vista como um risco, mas como uma oportunidade”. Será esse o tom da visita do líder chinês, com a assinatura de mega contratos e gestos de reconciliação depois de uma crise que teve como foco o Tibete. Os encontros com o Dalai Lama têm consequências, conclui um estudo, mas apenas durante dois anos.

O Eliseu garantiu que os acordos comerciais assinados durante a estadia de mais de dois dias de Hu em França serão “mais importantes do que os das visitas anteriores de dirigentes europeus a Pequim, ou de chineses ao estrangeiro”. Se quando Sarkozy visitou a China, em 2007, saiu com contratos assinados no valor de 20 mil milhões de euros, o montante agora será bastante superior, garante. Por exemplo, o grupo de telecomunicações Alcatel Lucent anunciou um acordo de 1,1 mil milhões de euros; a Airbus deverá vender 36 aviões à China Southern Airlines, por 3,78 mil milhões; O “número um” do nuclear Areva irá fornecer 3 mil milhões de euros em urânio ao produtor chinês de electricidade CGNPC.

Estará também na agenda a preparação da nova cimeira do G20, que na próxima semana juntará os seus líderes na Coreia do Sul. Os responsáveis europeus chegaram a um consenso com Washington para que a China seja pressionada a valorizar a sua moeda mais rapidamente, salientava a Reuters. Por outro lado, Sarkozy pretenderá agora chegar a um entendimento com Hu para ajudar a avançar a sua agenda de reforma do sistema monetário quando assumir a presidência do grupo das 20 economias mundiais, depois da cimeira.

“Com a França, Pequim retoma a sua política, e a sua diplomacia, de grandes contractos”, comentou ao "Libération" o sinólogo François Godement. “O Presidente Sarkozy irá seguramente justificar isto com a crise. Mas espero que a França não perca de vista os seus outros interesses, como a posição nos direitos humanos ou a capacidade de afirmar que recebe quem bem entende”, adiantou.

O impacto de desafios à China

Na Primavera de 2008, nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, Sarkozy apelou ao regime chinês que pusesse “fim à violência” na capital tibetana, ameaçando não participar na cerimónia de abertura dos Jogos. Meses depois, ignorando avisos de protesto do Governo chinês, reunia-se na Polónia com o Dalai Lama.

Os encontros dos responsáveis mundiais com o líder espiritual tibetano têm, realmente, um impacto nas trocas comerciais com a China, concluiu o estudo “O Efeito Dalai Lama”, de investigadores da Universidade de Gottingen, na Alemanha. “Os nossos resultados mostram que a China castiga os países que recebem o Dalai Lama ao mais alto nível político”, escrevem os autores. “Mas este ‘Efeito Dalai Lama’ só se verifica na era Hu Jintao e não em períodos anteriores. Para além disso, descobrimos que o efeito desaparece dois anos depois do encontro ocorrer”.

Os investigadores analisaram as exportações para território chinês de 159 países, entre 1991 e 2008, para testar até que ponto as relações bilaterais afectam o comércio com a China. Tiveram ainda em conta o número de grupos de apoio ao Tibete e as viagens do líder espiritual, visto por Pequim como uma ameaça à sua integridade territorial. Concluíram que as ameaças do regime chinês são mesmo levadas à prática.

A proximidade deste encontro pode ter levado Sarkozy a evitar comentar a atribuição do Nobel da Paz a Liu Xiaobo, dissidente detido. O assunto não será agora abordado: Paris e Pequim concordaram que não haverá conferência de imprensa. Para as ONG, a “pátria dos direitos humanos” tinha obrigação de pedir contas à China. Os franceses poderão fazê-lo nas manifestações previstas para hoje amanhã, antes de Hu partir para Portugal.

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