Beja Táxis colectivos atenuam isolamento

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Desde 2000, foram oito mil as pessoas que recorreram ao serviço dos táxis colectivos a funcionar em Beja

Para superar a redução drástica das carreiras de autocarros, a Câmara de Beja criou o serviço de táxis colectivos. Inicialmente resultou. Mas a procura deste meio de transporte está a decrescer de ano para ano. Por Carlos Dias (texto) e António Carrapato (fotografia)

a Andar de táxi quase ao preço dos transportes colectivos de passageiros é uma solução inovadora que ainda continua a surpreender alguns dos residentes nas 14 freguesias rurais do concelho de Beja. Um projecto-piloto, único a nível nacional, que arrancou no início do ano 2000, envolto em alguma expectativa, e que foi encarado como uma espécie de galinha gorda por pouco dinheiro.

Se para os habitantes do interior de Beja a troca dos autocarros de passageiros pelos táxis colectivos representou um bem social acrescido de mais qualidade e rapidez, para os responsáveis do município alentejano o problema que impôs esta solução tinha contornos mais profundos: a perda acentuada de população. A capital do Baixo Alentejo acompanha a tendência da restante região: o crescente despovoamento, em cada ano que passa, no que respeita às freguesias rurais.

Decorrida uma década após a implantação do novo modelo de transporte público, as razões que presidiram à sua criação continuam presentes: resolver o problema de ligação às aldeias mais isoladas, ao possibilitar um acesso cómodo, rápido e barato a quem necessita de se deslocar ao hospital de Beja, às compras nos supermercados e hipermercado da cidade, ou tem de tratar de problemas na Segurança Social.

A funcionar apenas ao fim-de-semana (altura em que não há, de todo, autocarros), este é o único meio de transporte para quem, nestes dias, exerce a sua actividade profissional em Beja e vive nas aldeias vizinhas. Uma mulher contactada pelo Cidades e a residir temporariamente na freguesia de Albernoa usa-os para visitar o marido no estabelecimento prisional de Beja: "Dá muito jeito, ter um táxi quase à porta. De outra forma só podia contar com uma boleia de alguém. Mas por vezes é difícil."

No lugar de Salvada, o presidente da junta, Sérgio Manuel Engana, realça a importância dos táxis colectivos, que diz "compensarem a falta de transportes públicos aos sábados e domingos". Seja nas situações descritas, ou simplesmente para "passear na cidade", a criação dos táxis colectivos, assinala, é "um bem fundamental" para a mobilidade de pessoas de "fracos recursos económicos."

Contudo, são muitos os que utilizam meios de transporte próprio, com destaque para os mais jovens, cuja mobilidade é mais acentuada, nas idas e vindas à capital do distrito, para a diversão, as compras ou o convívio. Manuela Antunes, 23 anos, diz que nunca utilizou o táxi colectivo. "Só o faria em caso limite, se tivesse o carro avariado ou não encontrasse boleia." Diz esta jovem que é um tipo de transporte a que as pessoas "estão a ligar cada vez menos".

Posição semelhante é defendida por João Colaço, taxista, que faz as rotas definidas na parceria estabelecida no ano 2000 entre a Câmara de Beja, a Rodoviária do Alentejo, a Antral e a então Direcção-Geral de Transportes Terrestres, entretanto substituída pelo Instituto para a Mobilidade e Transportes Terrestres.

De facto, o número dos que recorrem aos táxis colectivos "está a diminuir" em relação ao ano 2000. Houve então quase 1100 utilizadores, para cerca de 650 em 2009. Em 2010 pode vir a confirmar-se um novo decréscimo. João Colaço conclui que as pessoas "já não vêem grande necessidade" na utilização do serviço. "Quase toda a gente tem carro", observa. O seu colega José Matias, que presta serviço em Albernoa, acrescenta que, em termos de financeiros, os táxis colectivos "não têm muito peso". No Verão, a procura cresce um pouco "com as pessoas que vão para a piscina de Beja". Mas é no turismo rural que José Matias encontra um razoável alento económico.

Com efeito, de há dez anos a esta parte, o aparecimento da actividade vitivinícola atraiu um maior número de pessoas que utilizam o táxi para se deslocarem de e para Beja ou a outra localidade do distrito a partir das unidades turísticas localizadas próximo da freguesia de Albernoa. "O turismo está a dar uma forte ajuda", garante o taxista, alertando assim para uma nova realidade que veio colmatar, em parte, as consequências económicas do acentuado decréscimo populacional.

Há, no entanto, quem atribua o decréscimo na utilização dos táxis colectivos a uma alegada falta de divulgação e de informação. A conclusão é de Álvaro Nobre, presidente da Junta de Freguesia de Cabeça Gorda. Este autarca diz ter participado na elaboração e estruturação do projecto dos táxis colectivos. Mas assinala que o lançamento do projecto tinha como elementos dinamizadores "a sua divulgação e promoção".

A Câmara de Beja endereçou recentemente às juntas de freguesia do concelho um ofício a informar os autarcas das várias reclamações que está a receber de jovens, que se queixam de não haver serviço de táxis colectivos entre as 20h e as 4h ou 5h. O município realça a importância de "servir a população mais jovem" neste período aos sábados e aos domingos.

O município de Beja já viu o esforço aplicado na melhoria da mobilidade urbana reconhecido a nível internacional. A Civitas, rede europeia financiada pela União Europeia que promove uma mobilidade mais sustentável, atribuiu a Beja um "diploma de mérito" pela execução de um conjunto de medidas que inclui o serviço de táxis colectivos, na ligação dos meios rurais à sede do concelho. Jorge Pulido Valente, presidente da autarquia, considerou que esta distinção vem "reconhecer o trabalho, o esforço e o empenhamento da autarquia" na rede de mobilidade. No entanto, nenhum elemento da autarquia, incluindo o seu presidente, se mostrou disponível para responder às questões do Cidades sobre o estado actual e o futuro do projecto.

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