Que voltem os suevos!

É mais caro atravessar a fronteira portuguesa em Valença do que um visto de entrada no Zimbabwe. Os 77 quilómetros de distância entre a Galiza e o Porto custam 77 euros, uma boa média, há que reconhecê-lo, quando um visto de entrada no país de Robert Mugabe custa bem menos: qualquer coisa como 30 dólares. Além deste camuflado visto de entrada que os galegos começaram a pagar para almoçar no Alto Minho ou comprarem mobiliário sueco em Matosinhos, são ainda confrontados com o autêntico quebra-cabeças em que se transformou a cobrança de portagens nas antigas Scut. O ministro António Mendonça até reconhece que o processo de pagamento é complexo, mas é totalmente risível que tenha a desfaçatez de acreditar, ou de nos tentar convencer disso, que este é um "sistema claro e que introduz equidade". Sistema quê?

Circular numa antiga Scut exige manual de instruções bilingue e mesmo essa não é garantia de que tudo corra com a devida urbanidade. Os dispositivos temporários para matrículas estrangeiras foram disponibilizados tardiamente; a Via Verde não teve capacidade para responder ao aumento da procura ou, sequer, para a antever; e o pós-pagamento nas estações dos CTT umas vezes é possível, outras não. Já para não falar na total ausência de alternativas decentes, da qual os problemas de tráfego em Francelos são apenas uma amostra.

O Governo teve a genialidade de fazer das auto-estradas sem custo para o utilizador um excessivo e praticamente obrigatório custo para os 5,3 milhões de pessoas que moram a menos de 120 quilómetros do Porto, a acreditar em algumas contas. A propósito, segundo os mesmos cálculos, a população residente a igual distância de Lisboa é de 4 milhões...

As antigas Scut precisam de um Simplex só para elas. "A portagem mais cara e caótica do mundo", como lhe chamou o El Mundo, até levou o circunspecto Carlos Lage a pedir uma simplificação dos processos de pagamentos, de modo a diminuir a total ausência de cortesia e as inevitáveis consequências que as portagens não deixarão de criar entre os galegos.

De Portugal, para já, a Galiza só pode contar com o adiamento sine die de uma ligação a alta velocidade entre Porto e Vigo e com uma possível "simplificação" na cobrança de peaxes ou peages. É pouco. Que voltem os suevos!

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