Marina Abramovic vai morrer no Festival de Manchester

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O limite, outra vez.

As performances de Marina Abramovic ((Belgrado, 1946) sempre estiveram no limiar da situação-limite: houve alturas em que teve uma arma apontada à cabeça, outras em que se manteve em silêncio 700 horas seguidas, outras ainda em que pegou fogo ao seu próprio corpo (e também já se apunhalou, já se deitou nua numa cruz de gelo, já tatuou uma estrela comunista na barriga com lâminas de barbear, já se chicoteou). Na próxima edição do Festival Internacional de Manchester, que decorre de 30 de Junho a 17 de Julho do próximo ano, Marina Abramovic vai morrer: os bilhetes para os cinco funerais da performer montenegrina (dias 9, 11, 13, 15 e 16 de Julho) já estão à venda no "site" do festival.

"The Life and Death of Marina Abramovic" é uma biografia da mãe fundadora da performance encenada por outro guru das artes performativas, Robert Wilson. Em palco, além da própria, estarão Willem Dafoe, o narrador do espectáculo, e Antony Hegarty (dos Antony & The Johnsons), convidado a compor a banda sonora. Depois da estreia, em Manchester, "The Life and Death of Marina Abramovic" terá apresentações em Madrid (2012), Basileia e Amesterdão (2013).

Paralelamente aos ensaios da peça, que já estão a decorrer no Teatro Real, em Madrid, Marina Abramovic prepara-se também para inaugurar uma retrospectiva na Lisson Gallery, em Londres (de 13 de Outubro a 13 de Novembro). O "Guardian", que a quis entrevistar para saber notícias de todas estas frentes, encontrou-a ainda exausta da sua maratona de 700 horas no MoMA, "The Artist is Present", o tipo de trabalho que ela usa para ilustrar as diferenças entre teatro e performance. "Para ser performer, é preciso odiar o teatro. O teatro é falso... A faca não é real, o sangue não é real, as emoções não são reais. A performance é exactamente o oposto".

"The Artist is Present", que convidava os visitantes a sentarem-se em silêncio ao lado de Marina, bateu recordes de afluência no MoMA (mais de 850 mil entradas) e foi uma experiência poderosíssima, conta a artista: "Um enorme membro dos Hell's Angels, com tatuagens em todo o lado, olhou para mim desafiadoramente, mas dez minutos depois estava a desfazer-se em lágrimas". Houve visitantes que repetiram mais de dez vezes a experiência, um grupo de Nova Iorque distribuiu crachás "Eu chorei com a Marina Abramovic" e um homem deixou-se ficar ao lado dela sete horas seguidas, enfurecendo a fila de espera (pela qual, de resto, figuras como Lady Gaga, Sharon Stone, Isabella Rossellini, Rufus Wainwright e Björk, que levou o companheiro Matthew Barney e os filhos, não tiveram de passar).

O sacrifício por trás de "The Artist is Present" é um elemento nuclear do percurso de Marina Abramovic: os pais dela juntaram-se à resistência comunista durante a Segunda Guerra Mundial, o tio-avô era o patriarca da Igreja Ortodoxa, e a sua carreira como performer organizou-se em torno da dor e do sofrimento. "Tudo na minha infância tinha a ver com o sacrifício: em favor da religião ou do comunismo. Ficou gravado em mim. É por isso que tenho esta força de vontade doentia. O meu corpo começa agora a desabar, mas isto é o que eu vou continuar a fazer até ao fim".

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