Portugal arrisca um regresso à recessão no final do ano

Foto
Consumo ameaçado por quebras das expectativas adriano miranda

Quebras no investimento e no consumo privado devem levar a contracção da economia em 2011, conclui estudo da Ernst & Young

O retrato não é animador. As empresas ainda não estão a investir, o desemprego continua a aumentar e o consumo privado teima em cair. E a situação só tenderá a alterar-se a partir de 2012. As conclusões são do estudo Eurozone Forecast, da Ernst & Young, que hoje está a ser apresentado a nível europeu e que aponta para que a economia portuguesa tenha regressado à recessão no segundo semestre.

O crescimento acima do esperado na primeira metade do ano ajudará a compensar as contracções de um por cento e 0,8 por cento no terceiro e quarto trimestres, respectivamente, permitindo um aumento anual do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,7 por cento, conclui o estudo. Mas se a previsão de crescimento anual até vem em linha com o esperado pelo Governo, são as diferentes expectativas quanto ao desempenho do investimento e do consumo privado que explicam que a consultora antecipe uma contracção de 0,7 por cento da economia em 2011, quando o gabinete de Teixeira dos Santos espera um crescimento de 0,5 por cento.

"Temos uma leitura mais realista que o Governo destes dois motores da economia", disse ao PÚBLICO o partner da Ernst & Young José Gonzaga Rosa. Se em 2011 as previsões do executivo apontam para subidas do consumo e do investimento de 0,5 e 0,9 por cento, respectivamente, a consultora vaticina descidas de 1,7 e 3,8 por cento. E é por isso que, numa altura em que a crise da dívida pública e a introdução de novas medidas de austeridade voltam a marcar a agenda, o especialista defende que é preciso "desviar a questão do Estado" e recentrá-la nas empresas, que estão "no limiar de sobrevivência, a trabalhar para pagar custos". Gonzaga Rosa sugere medidas como "a redução, mesmo que transitória, das obrigações das empresas com a Segurança Social", para que estas "possam suster emprego e recrutar".

Sinais errados

É o problema português um problema de credibilidade? É definitivamente "um jogo de gestão de expectativas" onde "os sinais que têm sido dados têm sido os piores", diz o especialista, destacando o aumento de 3,9 por cento do consumo público no segundo trimestre. Era "exactamente o que não podia ter acontecido", num momento em que o compromisso era de redução da despesa.

Sobre eventuais medidas de austeridade, o especialista da Ernst & Young considera errado que "a solução em que o Estado pensa sistematicamente" seja a de pedir aos con- tribuintes que "paguem as suas ineficiências". Sustentando que "a primeira medida deveria ser de optimização de custos, como reduções salariais ou cortes com pessoal", lembrou que um aumento do IVA "vai criar um novo fantasma que é o da inflação". Associado ao aumento das matérias-primas dos bens alimentares, a que começa a assistir-se, o aumento generalizado da taxa de IVA vai reduzir o poder aquisitivo e vem por isso "no pior momento".

No meio de tantas más notícias, o especialista destaca pela positiva o aumento da taxa de poupança das famílias, porque, "ainda que forçada" pelas circunstâncias, representa uma diminuição do endividamento, e, por outro lado, "a selecção natural" das empresas num contexto de crise, em que "só as mais competitivas sobreviverão" e "mais robustecidas".

Sugerir correcção