Torne-se perito

Risco da dívida voltou a agravar-se, quebrando a barreira dos 400 pontos

O risco da dívida portuguesa voltou ontem a subir, atingindo um novo recorde e quebrando a barreira dos 400 pontos. Quer isto dizer que os investidores internacionais estão a exigir juros mais altos para comprar dívida portuguesa, encarecendo ainda mais as emissões que o Estado ainda precisa de fazer.

A subida do risco da dívida portuguesa continua a ser gerada pela desconfiança dos investidores internacionais face à capacidade do país para cumprir as metas da redução do défice através de um controlo da despesa pública e não apenas pelo aumento das receitas.

A dívida portuguesa também continua a ser prejudicada pela situação da Irlanda, que apresenta um dos mais elevados défices da Europa e uma grave crise no sistema financeiro. Ontem foi divulgada a contracção do PIB no segundo trimestre, contrariando os sinais de crescimento no primeiro trimestre (ver texto na Economia). Este dado acabou por gerar maior pressão no mercado da dívida da Irlanda e dos países do Sul da Europa e a prejudicar o desempenho das bolsas europeias, que encerraram todas negativas, embora com quedas ligeiras. Com todas estas notícias negativas, o euro também perdeu mais terreno face ao dólar.

Ao final da tarde de ontem, o prémio (spread) que os investidores estavam a exigir para comprar Obrigações do Tesouro portuguesas (a 10 anos) em vez de alemãs estava nos 409,3 pontos base, e os juros subiam para 6,385 por cento, os valores mais altos desde a criação do euro. Na última emissão de dívida, feita anteontem, Portugal já pagou juros acima dos seis por cento.

Como o PÚBLICO noticiou ontem, a subida dos juros, verificada desde Abril, representará um acréscimo de 850 milhões de euros nos custos das emissões realizadas pelo Estado desde esse mês.

Os juros da dívida espanhola, que têm estado praticamente estabilizados, subiram ontem muito ligeiramente e o mesmo aconteceu ao risco do país, que está nos 185,2 pontos base. Ou seja, neste momento, para se financiar, o Estado português já está a pagar juros dois pontos mais altos do que a Espanha.

Um pouco pior do que Portugal está a evolução da dívida irlandesa: os juros da obrigações a 10 anos subiram ontem para 6,545 por cento, contra 6,321 por cento do dia anterior, e o prémio de risco subiu para 425,2 pontos base. A maior pressão dos investidores continua a verificar-se na dívida grega, com os juros das OT a 10 anos a subir para 11,246 por cento e o prémio face às "bunds" alemãs, que servem de referência ao mercado, a situar-se nos 900,2 pontos base.

Apenas para dar a noção do agravamento do risco do país, o prémio ou spread da dívida portuguesa face às mesmas obrigações alemãs estava em Janeiro do corrente ano em 85 pontos base, diferencial que agora já supera os 400 pontos.

Para este agravamento do risco do país está a contribuir, na perspectiva do secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, uma má comunicação de Portugal com o mercado. "Se bem que já tenha em curso muitas das medidas necessárias, Portugal tem de fazer um melhor trabalho na comunicação dessas medidas aos mercados", defendeu o responsável, citado pela Reuters, remetendo para o exemplo de outros países da UE, que foram bem sucedidos nos sinais fortes que deram aos mercados.

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