A longa novela de Queiroz tem hoje mais um episódio
Tribunal Arbitral do Desporto decide se suspende castigo de seis meses. Conselho de Justiça anulou ontem punição de um mês por injúrias.
Carlos Queiroz não é seleccionador de futebol há duas semanas, mas o que se passou nos últimos meses vai arrastar-se na justiça desportiva e nos tribunais durante meses. Hoje haverá mais um episódio da novela, com o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) a decidir se levanta a suspensão de seis meses enquanto avalia o recurso do ex-seleccionador.
O TAD ainda não vai hoje pronunciar-se sobre se a Autoridade Antidopagem de Portugal (Adop) tinha razão para suspender o treinador por seis meses por perturbação de um controlo antidoping, mas sim dar ou não efeito suspensivo ao recurso de Queiroz. Se der, o técnico pode voltar a trabalhar, só tendo de cumprir castigo se a decisão final do TAD lhe for desfavorável. Se o tribunal de Lausana não levantar a suspensão, o técnico ficará sem treinar até ao fim do castigo de seis meses (ou se/quando houver uma decisão favorável antes do fim da suspensão).
Este novo epsiódio da novela Queiroz surge depois de ontem ter acontecido mais um. O Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anulou o castigo de um mês de suspensão e multa de 1000 euros que tinha sido aplicado pelo Conselho de Disciplina (CD), por injúrias e ameaças à reputação de Luís Horta, presidente da Adop e dos médicos da brigada antidopagem.
Punido por artigo erradoA razão apresentada pelo CJ para anular o castigo (entretanto já cumprido) foi a de o treinador ter sido punido à luz de um artigo errado e os factos que ocorreram na Covilhã já estarem prescritos.
Em primeiro lugar, o CJ conclui que Queiroz não podia ter sido castigado ao abrigo do artigo 98.º do regulamento disciplinar da FPF (que pune injúrias e ofensas à reputação), defendendo que este artigo visa "proteger única e simplesmente a FPF, as suas actividades estatutárias, os seus órgãos sociais..."
Neste ponto, o CJ reconhece razão a Queiroz, cujo recurso diz que "os alegados ofendidos pelas expressões proferidas pelo arguido [os médicos que fizeram o controlo antidoping, Luís Horta e a sua mãe] não integram o elenco de potenciais ofendidos".
Devolução do salárioO Conselho de Justiça, por outro lado, considera que Queiroz violou "de forma grosseira e irresponsável os mais elementares deveres de ordem disciplinar, ética e desportiva que lhe estavam impostos", pelo que deveria ser punido ao abrigo do artigo 102.º (da inobservância de outros deveres). Mas, neste caso, o órgão de recurso da FPF considera que os factos estão prescritos, porque o artigo está inserido nas infracções disciplinares leves, que prescrevem "ao fim de um mês".
A anulação deste castigo tem como efeito prático a devolução do salário que foi retirado a Queiroz no mês de suspensão e a devolução da multa que pagou. Este desenlace poderá também vir a ser usado pelo treinador quando contestar em tribunal o despedimento do cargo de seleccionador. "A pouco e pouco a justiça vai sendo reparada", reagiu ontem Queiroz em declarações à Lusa, voltando a acusar o secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, e o vice-presidente da FPF, Amândio de Carvalho, de terem promovido o seu despedimento.
Também ontem o Conselho de Disciplina realizou a sua reunião semanal, mas ainda não decidiu sobre um outro processo disciplinar a Queiroz, por causa das declarações sobre Amândio de Carvalho. O caso foi debatido, apurou o PÚBLICO, mas ainda não há decisão. Os conselheiros recusam também comentar o facto de o CJ ter revertido o castigo a Queiroz, alegando que os dois órgãos são independentes e cada um faz o seu trabalho. E desmentem qualquer intenção de se demitirem por cauda da alegada falta de solidariedade da direcção de Gilberto Madaíl, depois de a Adop ter avocado o processo, alterando a decisão do CD.