Arqueólogo defende que obras no Monte Picoto são oportunidade para estudar local

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Bracara Augusta era a capital da província romana da Galécia adriano miranda

Sande Lemos considera muito provável a existência de vestígios romanos no monte, agora que se sabe que Bracara Augusta era maior do que se supunha

A intervenção que a Câmara de Braga prepara no Monte Picoto é uma oportunidade única para fazer um estudo arqueológico no local. Quem o defende é Francisco Sande Lemos, antigo presidente da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UM), que considera "muito provável" a existência de vestígios romanos naquela zona da cidade. A autarquia está disponível para apoiar a ideia, no âmbito do projecto de criação de um parque urbano.

Sande Lemos não tem dúvidas de que a cidade deve aproveitar as obras a realizar naquele local para ficar a conhecer melhor o seu passado. "Mais do que sondagens prévias, seria importante fazer um estudo mais alargado do local", destaca o arqueólogo, lembrando que, apesar do conhecimento produzido ao longo dos últimos anos acerca de Bracara Augusta, os seus arredores mantêm-se muito pouco estudados.

Francisco Sande Lemos lembra que o templo romano detectado durante as obras de prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade ou os achados descobertos nas obras de construção do novo hospital de Braga mostram como Bracara Augusta era grande, pelo que nos arredores de uma cidade com a importância da capital da Galécia seria normal encontrar áreas de trabalho de artesãos, por exemplo.

Por isso, aquele especialista considera "muito provável" a existência de vestígios da época romana no Monte Picoto. "Podem surgir achados importantes, como um templo", antecipa Sande Lemos, considerando que esta hipótese ganha força, se tivermos em conta que está em causa uma encosta debruçada sobre a cidade e o rio, próxima de uma das principais saídas de Bracara Augusta, em direcção a Vizela e ao vale do Douro, e daí para Emerita Augusta, actual Mérida, em Espanha.

A Câmara Municipal de Braga está disponível para acolher a ideia de Sande Lemos. O vereador Hugo Pires garante que toda a intervenção a realizar no Monte Picoto será acompanhada pelo gabinete de arqueologia do município. "Até era bom que surgisse algum achado importante. Seria uma mais-valia para o parque urbano que queremos criar", afirma aquele responsável, abrindo a porta a ajustes no projecto que permitam, por exemplo, a musealização de eventuais achados arqueológicos.

A Câmara de Braga tem prevista a criação de uma zona de lazer naquele monte sobranceiro à Avenida da Liberdade. A ideia tem quase uma dezena de anos e o início da sua concretização chegou a estar previsto para o final do ano passado, mas voltou a sofrer atrasos. O projecto final, apresentado em Julho, prevê a criação de percursos pedonais e ciclovias, bem como de um anfiteatro, um café-bar, uma biblioteca e jardins temáticos nos quase 23 hectares de área florestal que serão, em breve, intervencionados.

Neste momento, decorre o processo de negociação para a aquisição dos terrenos envolvidos no plano de pormenor para o Monte Picoto. A autarquia deu já início ao processo de expropriação de parte desses terrenos, ao mesmo tempo que constituiu uma comissão mista com a diocese de Braga, para tentar chegar a um entendimento extrajudicial relativo à posse de parte de um conjunto de propriedades que corresponde a cerca de um quinto da área a incluir no futuro parque urbano.

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