Empresários portugueses de mármores partem à conquista da China

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A China tem forte apetência pelas pedras naturais Pedro Martinho

Quem não se lembra de Ali-Babá e os 40 Ladrões ou do génio da lâmpada de Aladino? O mármore português reveste muitos edifícios que parecem saídos d"As Mil e Uma Noites na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos. Extraído das pedreiras de Estremoz, Borba e Vila Viçosa e de outras regiões portuguesas, segue em grandes quantidades para aqueles países do Médio Oriente e também para os EUA, Alemanha e até a Polónia.

A indústria de rochas ornamentais quer também começar a vender grandes quantidades de mármore para a China - que já conhece e aprecia estes materiais, mas gosta sobretudo dos calcários portugueses, nos quais é o mercado mais importante.

Um grupo de empresários viajou na última semana para Macau e Xangai, com o objectivo de aumentar a rede de contactos no país e introduzir também ali a moda do mármore. Do programa faz parte uma apresentação em Xangai na próxima terça-feira, Dia da Rocha Ornamental no Pavilhão de Portugal, conduzida por um arquitecto que vai explicar as qualidades nobres do material. A viagem é organizada pela Assimagra - Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Afins e pela Direcção-geral de Economia e Geologia.

Tudo isto porque a China é "o maior consumidor do mundo de pedra natural e Portugal é um forte país com tradição neste sector". "Não podemos deixar de olhar para a China", salientou ao PÚBLICO o presidente da Assimagra na véspera de partir para Macau, na última terça-feira.

"Estamos preocupados com os mármores porque perderam mercado, e então desafiámos as empresas", destaca, por seu turno, Carlos Caxaria, subdirector-geral da Direcção-Geral de Energia e Geologia, responsável por esta área.

As vendas sofreram descidas nos últimos anos, embora o mármore continue a ser a pedra mais exportada e aquela que tem um maior valor acrescentado, explica, por sua vez, Miguel Goulão. Os calcários costumam ser apelidados também de mármores dentro da indústria das rochas ornamentais, mas há uma diferença: enquanto o mármore pode atingir preços máximos de 9000 euros por metro cúbico, o valor máximo do calcário vai até aos 750 euros, exemplifica o dirigente da Assimagra.

Entretanto, em Portugal a crise económica reduziu o investimento nestes materiais; lá fora, ganharam força países que vendem mármores mais baratos, como a Índia, o Irão, a Turquia e a própria China.

Os dados mais recentes da direcção-geral mostram que a produção anual de rochas ornamentais (mármores, granito, ardósia e xisto) é de 3,2 milhões de toneladas por ano, mas as exportações desceram de 238,1 milhões de euros em 2007 para 233,3 milhões em 2009.

Já este ano, a tendência negativa está a inverter-se. "No início de 2010, houve uma inovação nos indicadores da produção no mármore do Alentejo; verifica-se uma procura que chega aos valores de há cinco ou seis anos", afirma Miguel Goulão. Em causa está a perda recente de valor do euro, que tornou as vendas mais competitivas para os países árabes.

A sensação de retorno dos mercados "à normalidade" é partilhada por Jorge Galrão, presidente do grupo Galrão, exportador de mármore, calcário e granito, em especial de materiais já transformados para obra. Todavia, avisa que as vendas do sector "ainda não mostram a consistência desejável". Isso sucede principalmente nos EUA, um dos maiores clientes deste grupo português, no qual 80 por cento das receitas anuais de 12 milhões de euros são de vendas para o estrangeiro.

A ida de Jorge Galrão à China, onde já tem clientes, irá servir para a empresa se dar a conhecer melhor e aprofundar as relações que já tem. A China concorre com o grupo especialmente na área de granitos, porque vende esse material para Portugal "a valores inferiores aos preços de custo" das empresas nacionais, mas "também tem um mercado interno muito forte que continua em crescimento", lembra o empresário da zona de Pêro Pinheiro.

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