Um grande viajante mais do que um turistaAs viagens de eleiçãoBilhete de identidadeAs viagens de eleição

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joÃo gaspar

Fundador da Quinta do Lago no Algarve, André Jordan morou na Polónia, Portugal, Brasil, Estados Unidos, Argentina e França, antes de passar a dividir o seu tempo entre Lisboa e Londres. Mas não se considera um turista. Pelo contrário, tem a sensação de que lhe faltam demasiados carimbos nos seus passaportes. Memórias de viagens de um bem-sucedido empresário luso-brasileiro, recolhidas por Rodrigo Cordoeiro

André Jordan trata logo de pôr as coisas no lugar, quando, antes de iniciarmos a entrevista no seu gabinete da Invesplano, em Lisboa, o jornalista alvitra que um artigo sobre as viagens dele daria para um livro inteiro.

"Não é bem assim", contrapõe. "Tenho sido turista muito poucas vezes na vida. Sempre viajei muito em função de uma razão, seja de ordem familiar, negócios, amizade. Claro, algumas vezes faço-o para conhecer lugares, principalmente pela música, mas não sou o turista clássico. Férias exóticas, não as faço propriamente."

Na verdade, viajou muito - e começou cedo, e não pelos melhores motivos. A 1 de Setembro de 1939, no mesmo dia da invasão nazi sobre a Polónia, abandona a terra natal de Lwow, região conhecida como a Galiza polaca. "Comecei a minha vida a fugir", gosta de dizer.

Da Polónia, ele e a sua família passam pela Roménia e daqui passam por Veneza. "Não sabia que existia um lugar onde pudesse haver tanta beleza." André Jordan, então com seis anos, não se lembra de ter dito esta frase à chegada a Veneza, mas a sua mãe sempre lhe garantiu que sim, que foi o que ele disse.

"O que sei é que a sensação de Veneza ficou dentro de mim, aquela convivência entre água tranquilas e ruas", confessa. "Pensando hoje nesse episódio, pergunto-me se Veneza não terá sido a minha inspiração para a Quinta do Lago." A Quinta do Lago com a sua Ria Formosa.

Continuando a peregrinação de 1939, de Veneza a família Jordan seguiu para Roma, e o Natal foi passado em Paris. Com a logo iminente invasão de França por Hitler, veio para Portugal escassos meses depois. André Jordan morou no Estoril e estudou no Colégio St. Julian"s em Carcavelos, mas não por muito tempo. A sua mãe receava agora a invasão da Península Ibérica pelos nazis. Em 1940, já estavam no Brasil.

O Rio de Janeiro seria a sua casa durante sete anos. "Uma cidade encantada, doce, enfim, um sonho", recorda, a propósito desta fase da sua vida. "As relações eram suaves, afectivas, amorosas, existia um clima sensual e romântico, que lembrava muito o ambiente de Alexandria, dos romances intensos mas inconsequentes".

Na estreia de My Fair Lady

Em 1947 os seus pais divorciam-se e ele vai com a mãe para Nova Iorque, onde fica até 1950, dos 14 aos 17 anos, a estudar num colégio interno. Uma Nova Iorque que, diz, era muito diferente do que é hoje.

"Era uma cidade de quatro comunidades básicas, italianos, irlandeses, judeus e afro-americanos", recorda. "Morávamos em Manhattan, na Rua 78, entre Park Avenue e Madison Avenue, num bairro com cafés e lojinhas. Hoje estão lá as grandes marcas. Nova Iorque converteu-se entretanto num grande Shopping Center", considera.

Jordan recorda-se do comércio e da animação nocturna na Broadway, do furor da estreia de My Fair Lady, com Julie Andrews e Rex Harrison, e do milagre de ter assistido à sessão do segundo dia. "Não se conseguia comprar bilhete por nenhum preço. À última da hora, um sujeito perguntou se queríamos dois bilhetes ao preço normal. Alguém tinha acabado de cancelar".

Foi lá que fez as primeiras de férias de resort, no Greenbrier America"s Resort, em West Virginia, um monumental complexo dotado com casino e quatro campos de golfe. "Foi lá que tive o meu primeiro contacto com o golfe, o profissional era o Sam Snead. Lembro-me dele com o seu chapéuzinho batendo bolas". Sam Snead (1912-2002) é o recordista de vitórias no PGA Tour, com 82 títulos.

De volta ao Brasil, em 1950, frequenta Jornalismo numa universidade do Rio e, uma vez formado em 1952, inicia actividade no Diário Carioca, o mais importante jornal brasileiro na altura. Dessa década fala no livro que publicou em 2006, O Rio que Passou na Minha Vida. Foram tempos de boémia, com uma vida social activa e muitas mulheres, meninas do Rio, actrizes estrangeiras, manequins internacionais. "Durante dez anos não dormi, porque não havia tempo", confessa.

Assistiu ao nascimento da bossa nova convivendo com os respectivos gurus, João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Mas também se envolveu nos movimentos de arte popular e nas escolas de samba. De Nova Iorque, trouxera convicções e ideais centro-esquerdistas, pelos quais se bateu. Tudo sem deixar de exercer jornalismo - lançou inclusivamente uma revista intitulada Visão.

No Verão frequentava o sul de França, a Côte D"Azur. "Os casinos faziam grandes galas em salões ovalados, com smoking e fogo-de-artifício", conta. "Uma vez fomos a uma e eu, sentado à mesa, comecei a notar que as pessoas, a sala toda me observava. Só depois reparei que era o Clark Gable que estava atrás de mim".

Em 1960 casa-se com a princesa Mónica do Liechtenstein e, aproveitando a expansão dos negócios imobiliários do pai, parte em 1962 para Buenos Aires em busca de novos desafios profissionais. "Gostei muito de Buenos Aires, era uma vida muito agradável e tinha amigos extraordinários, leais, afectuosos. Por montanhas e lagos, fiz viagens magníficas".

Paris comédia de costumes

Dois factores contribuem para a partida de Buenos Aires, em 1967. A instabilidade governativa e a morte do pai, aos 61 anos. Mas não regressa ao Brasil, já que aceita o convite para ser director da maior empresa imobiliária americana à época, a Levitt & Sons, de Nova Iorque.

Porém, cedo descobre que a sua vocação não era ser executivo, mas empresário. Três anos depois, em 1970, abandona, divorcia-se, os seus dois filhos vão morar com a ex-mulher e ele junta-se à mãe em Paris. "Paris é um cenário maravilhoso e os parisienses são todos actores de uma comédia de costumes", lança. "Veja-se Sarkozi e Carla Bruni".

Neste período representou um empreendimento nas Bahamas e foi nestas ilhas que um sueco lhe faz uma pergunta e dá a resposta. "Sabe qual é o lugar do futuro? O Algarve".

Além da fugaz passagem por Portugal em 1940, André Jordan já cá tinha estado em 1967. Veio para liquidar alguns negócios do pai e, embora não tenha ficado, o país seduzira-o. Encantaram-no a Estrada Marginal - o peixe, que nunca tinha comido tão bom - e o Algarve ainda por descobrir em termos turísticos.

Aquela dica do sueco fê-lo deslocar-se ao Algarve em busca de uma propriedade e de investidores para fundar um country club no sul do país. Em 1971, forma a Planal SA, que viria a desenvolver aquele que é hoje um resort de referência no turismo de qualidade na Europa.

Passa a residir em Lisboa, já que o Algarve pouco tinha para oferecer em termos sociais e culturais, mas, em simultâneo, começa a descobrir outras cidades europeias, com destaque para Londres, que, segundo o próprio, é aquela que tem o maior volume de vida cultural, com cinco orquestras sinfónicas, três teatros de ballet, dois de ópera e tantos museus.

Madrid foi a descoberta do Prado e dos grandes pintores espanhóis. "Tem uma personalidade forte e vou sempre que posso." Amesterdão: "Cidade de contrastes onde a aparente austeridade calvinista convive com zonas de prostituição e venda e consumo de droga legalizados". Na sua opinião, a holandesa Orquestra Real do Concertgebouw é a melhor do mundo. De Itália, regista Roma, Florença, os grande lagos e "uma comida simples, leve e de altíssima qualidade."

Veio o 25 de Abril de 1974 e a Quinta do Lago, o único projecto em que André Jordan estava envolvido na altura, foi intervencionada pelo Estado. Regressa então ao Brasil e só volta a Portugal em 1980, quando o resort é desintervencionado. Vende-o em 1988 e vai trabalhar durante alguns anos na Bovis, em Londres, onde desde então tem a sua segunda residência a seguir a Lisboa, já que novos projectos se seguiriam em Portugal, como Vilamoura e o Belas Clube de Campo, em Sintra.

É todo um capital de vida que não o impede de ter a percepção de que não visitou muitos países. E, de facto, surpreende-nos que nunca tenha estado em África. Ou na China. Ou na Índia. Por outro lado, quantos de nós podemos dizer que viajámos tanto como André Jordan? Em jeito de conclusão pedagógica: o mundo é grande e não se pode ter tudo.1951 - Uruguai

"Estive numa estância em Punta del Este, influenciada pelos country clubs americanos, que só abria no Verão para a elite nacional argentina, mas perfeitamente informal. Um lugar fantástico, com praias bravas e mansas, a lembrar o Guincho, meio frio, meio ventoso".

1952 - França

"Foi uma viagem com o meu pai, a minha madrasta (o meu pai tinha voltado a casar) e a filha dela. Fomos do Brasil para a Europa num barco italiano chamado Augustus. Desembarquei em Cannes e, frequentando hotéis com restaurantes de alto nível, descobri a comida. Engordei logo. Comia-se muito mal no Brasil, na altura, era bife com arroz e batata e xúxu. Não se comiam saladas, porque as pessoas tinham medo do tifo, não havia muita higiene. E descobri Paris, ainda muito deprimida naquela altura. Havia a ideia de que não havia futuro. O que significou que o Plano Marshall deu uma injecção de tal forma na economia europeia, que esta renasceu com um vigor que não tinha antes da guerra".

1954 - Brasil

"Quando tive a minha primeira namorada a sério, fomos a Salvador, na Bahia. Era Portugal no século XVII, nos trópicos. Mágico, lindíssimo. Com a sua arquitectura antiga, as 365 igrejas, a tapeçaria, o material de candomblé importado de África. Salvador só tinha um hotel, nessa altura. Era uma cidade tão provinciana que indicávamos o destino aos taxistas pelo nome das pessoas. Na estrada para Itapuã, não havia nada".

1990 - Japão

"Depois de ter visitado Quioto, durante dois ou três anos não consegui olhar para os palácios europeus, com os seus barrocos e rococós. No Japão são todos tão simples e com tão belos jardins. O Japão tem uma cultura social muito desenvolvida, são atenciosos, educados, respeitadores. Com óptima gastronomia - e não falo de sushi, mas de comida mais sofisticada. Há mais restaurantes de três estrelas Michelin no Japão do que no resto do mundo".

1993 - República Checa

"Uma viagem a convite do Príncipe de Gales, em função de uma campanha de recuperação de monumentos históricos do país, que me permitiu o acesso às coisas mais fantásticas de Praga, de forma privada. Um concerto pela Orquestra de Praga com George Solti e Kiri Te Kanawa. Um jantar no castelo a partir do qual o Império Austro-Húngaro foi gerido".

Carimbo mais desejado

China

"Tenho pena de não ter ido à China. Do ponto de vista económico, social e político, gostava de ter a minha própria ideia sobre o país. De uma maneira geral, sempre preferi viajar para onde possa ter contacto com as comunidades locais.China

"Tenho pena de não ter ido à China. Do ponto de vista económico, social e político, gostava de ter a minha própria ideia sobre o país. De uma maneira geral, sempre preferi viajar para onde possa ter contacto com as comunidades locais.Nascido em Lwow, na Polónia, a 10 de Setembro de 1933, Andrzej Franciszek Spitzman Jordan é detentor de dupla nacionalidade, brasileira e portuguesa. Jornalista de formação, mas empresário de vocação, introduziu um novo conceito de resort turístico em Portugal ao criar no Algarve a Quinta do Lago, porventura o mais prestigiado resort turístico de alta qualidade da Europa. Mais tarde, virá a ser o homem por detrás da transformação do golfe em Vilamoura, a contribuir para que o Algarve seja hoje um dos melhores destinos do mundo para a prática da modalidade. Casado com uma norte-americana, Nora, pai de quatro filhos, abandonou o ano passado as funções executivas na Invesplano e na Planbelas, empresas que gerem o Belas Clube de Campo, um bem sucedido complexo residencial na região da Grande Lisboa, em Sintra.

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