Mourinho: "Obviamente disse que sim, mas estou fora do jogo"

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José Mourinho Foto: Susana Vera/Reuters/arquivo

O treinador do clube espanhol disse que não podia dizer que não a Gilberto Madaíl, após o convite do presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

"Informei o Real Madrid desse encontro com Gilberto Madaíl, do qual eu não sabia quais seriam os objectivos", começou por dizer Mourinho na conferência desta sexta-feira do Real Madrid.

"[Madaíl] Foi objectivo e emocional quando me fez o pedido e pelo facto de o nosso campeonato parar nesse período, e haver uma debandada geral aqui no Real – fico com três, quatro jogadores –, não iria ter grande influencia aqui", contou.

E mandou um recado aos jogadores, à imprensa e aos adeptos portugueses: "Gostaria de tentar ajudar a selecção nesses dois jogos decisivos que podem abrir a porta ou fechar a qualificação. Não sou eu, um treinador que chega dois ou três dias a Portugal, que pode ajudar – são os jogadores com o espírito de não passear o prestígio que ganham nos clubes. Quem tem que ajudar é a imprensa portuguesa e os portugueses a encher estádios", afirmou. "A minha ajuda seria muito, muito limitada".

"Daqui a 20 anos e a 'full time'"

"A selecção é um objectivo daqui a 20 anos, a 'full time', com total disponibilidade e sem qualquer tipo de limitação", continuou o técnico. "Mas como tinha dito há um tempo – e até a elementos da federação – num tempo de aflição, que pensassem que eu podia fazer alguma coisa pelo meu pais, eu nunca diria não".

"Eu não podia dizer não, se não não ficava bem comigo próprio, porque sou português. Não ficaria bem comigo próprio e com a minha família", sublinhou. E lembrou também: "Mas não posso dizer que sim, porque sou treinador do Real, tenho um trabalho em mãos para os próximos quatro anos – apesar de não ter sido capaz de dizer objectivamente que não".

"Deixei nas mãos do Real a decisão. Estou fora do jogo, das conversas, das decisões", analisou.

"Tudo a perder, nada a ganhar"

José Mourinho disse que a ir para a selecção não seria pelo seu prestígio nem pelo dinheiro. E que teria muito mais a perder do que a ganhar. "Eu não teria nada a ganhar, só teria a perder".

"Felizmente não preciso de trabalho, estou sentado na cadeira onde 99,9999 por cento dos treinadores gostariam de estar sentados", destacou.

"Informei Madaíl de que se chegasse a um acordo com o Real iria por zero euros, nem a gasolina queria que me pagassem na viagem daqui para o Porto..." Tem tudo o que precisa, atirou: "Não me falta prestígio".

"Não era eu que iria tirar alguma coisa de positivo [da situação] – a não ser aquele sentimento que os jogadores devem retirar que é o sentimento de orgulho, dar e não receber, era a única coisa que eu poderia retirar", confessou, sentado atrás da mesa da sala de imprensa, um tranquilo José Mourinho, que pediu para que se falasse também do jogo que o Real irá disputar no sábado e menos da selecção portuguesa.

"Não há unanimidade no Real Madrid"

Para Mourinho, é praticamente certo que o Real não aceite a situação de o técnico treinar o clube espanhol e a selecção portuguesa. "É fundamental sentir as sensibilidades locais, o que o Real sente, e a haver uma decisão teria sempre de ser uma decisão aceite por todos", referiu. "Uma decisão sem atritos, tranquila e com naturalidade, mas pelas reacções que já senti, até pela imprensa espanhola, parece-me que não é uma situação bem aceite".

E sublinhou o sentimento dos adeptos madridistas. "Os adeptos do Real também vêm as coisas da perspectiva do seu clube...". E apontou para o futuro: "Um dia irá acontecer – vou estar completamente disponível para dizer que sim e vou a correr. Se tivesse surgido numa altura em que não tivesse clube iria grátis".

Depois, fez a pergunta e respondeu. "Se acho que vou? Acho que não."

Acerca da situação que lhe foi colocada, Mourinho disse que teria pernas para andar. "Não era uma missão perdida – tinha pernas para andar. Para o Portugal-Dinamarca e o Islândia-Portugal teria tempo. Se fosse para Portugal levaria teria três jogadores daqui, o Cristiano Ronaldo, o Pepe e o [Ricardo] Carvalho. Aqui vou ficar com três jogadores do Real, o Léon, Granero e o Mateus".

"Sim, teria pernas para andar. Não iria ser impedido de trabalhar aqui", e lembrou que se ausentou há uma semana e não houve problemas. "Fui para um congresso em Genebra da UEFA e não estive aqui para treinar. Em termos de perda para o Real não seria grande diferença...".

Mas mais objectivamente, lembrou que está ligado contratualmente ao Real Madrid. "Muito objectivamente, devo-me ao Real, tenho contrato com o Real e se não for bem aceite pela família do Real digo que não. Parece-me, pelas tendências das coisas, que não há unanimidade", concluiu, antes de passar a falar em castelhano e explicar aos jornalistas espanhóis o que tinha acabado de dizer em cerca de meia-hora sobre o actual estado da selecção portuguesa de futebol.

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