Sarkozy diz à comissária Reding que receba os ciganos no seu país

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Sarkozy mandou o recado à comissária através dos seus senadores ERIC FEFERBERG/AFP

A luxemburguesa Viviane Reding foi obrigada a corrigir declarações em que evocava deportações da II Guerra Mundial

Bem vistas as coisas, o dia foi de vitória para Nicolas Sarkozy: à hora de almoço, o Presidente francês fez saber que, já que a comissária europeia da Justiça é tão crítica da expulsão dos ciganos romenos e búlgaros de França, talvez quisesse ficar com eles no seu país, o Luxemburgo. E, ao início da noite, Viviane Reding viu-se obrigada a corrigir as palavras fortes que usou no dia anterior, garantindo que a expulsão dos ciganos por França "nada tem a ver com o que se passou durante a II Guerra Mundial".

As declarações de Sarkozy não foram feitas de viva voz, mas relatadas por senadores do seu partido, após uma reunião com o Presidente. "Ele disse que estão a ser aplicadas as leis europeias e francesas, mas que se os luxemburgueses quiserem ficar com eles [os ciganos] não há problema", relatou o senador Bruno Sido.

"Disse ainda que é escandaloso que a Europa se exprima desta maneira sobre as acções da França. Explicar-se-á melhor", em Bruxelas, hoje, no Conselho Europeu, adiantou o senador.

Viviane Reding, comissária da Justiça e dos Direitos dos Cidadãos, criticou violentamente a política francesa de expulsão dos imigrantes ciganos para os seus países de origem. "A Europa não quer voltar a ver uma situa-?ção como a da II Guerra Mundial", disse na terça-feira.

A Comissão Europeia montou uma frente unida de apoio a Viviane Reding, mas traçando limites: o presidente Durão Barroso distanciou-se da parte do discurso em que ela aludiu às deportações da II Guerra.

"Uma ou outra expressões usadas pela senhora Reding no calor do momento podem ter suscitado um mal-entendido", disse Durão Barroso. "A senhora Reding não quis estabelecer um paralelo entre o que se passou na II Guerra e hoje", garantiu.

E Reding acabou por seguir o roteiro proposto por Barroso: "Lamento as interpretações que desviaram a atenção do problema que é preciso resolver. Não quis estabelecer um paralelismo entre a II Guerra e as acções do actual Governo francês", garantiu à AFP. "Pelo contrário, defendi, em nome da Comissão, os princípios e valores sobre os quais a União Europeia foi fundada", como a aplicação do direito e a não discriminação. Prometeu mais uma vez que dentro de duas semanas a Comissão decidirá se avança judicialmente contra a França.

Da Bulgária surgiu, entretanto, o primeiro protesto oficial contra as expulsões de ciganos. Esta medida "contrasta com os valores europeus", considerou o Presidente, Gueorgui Parvanov. "Não me parecem normais repatriamentos em massa como estes. Se há pessoas que violam a lei, essa informação deve ser tornada pública, mas nunca deve ser evocada a culpa por princípio étnico", disse à rádio nacional.

Mas o dia não terminou sem que de Washington viesse uma alfinetada mais para Paris: a AFP divulgou um apelo de um alto responsável do Departamento de Estado, dizendo que os EUA "convidam a França e outros países a respeitar os direitos dos ciganos".

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