Rui Cardoso Martins vence Grande Prémio de Romance e Novela da APE

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Rui Cardoso Martins Foto: Enric Vives-Rubio

Chegou em boa altura o Grande Prémio de Romance e Novela Associação Portuguesa de Escritores/Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas para Rui Cardoso Martins, pela sua segunda obra “Deixem Passar o Homem Invisível”, editado pela Dom Quixote. “Andava muito desanimado com o Benfica!”, brinca o escritor, que é também cronista do PÚBLICO, quando o confrontamos com o galardão, que distingue obras publicadas durante 2009.

Mais a sério, revela que ficou “obviamente contente”, até porque a lista dos anteriores vencedores é credível, destacando José Cardoso Pires e António Lobo Antunes. O último foi um dos quatro escritores que bisaram – os outros três foram Virgílio Ferreira, Agustina Bessa-Luís e Maria Gabriela Llansol. O prémio, no montante de 15 mil euros, é atribuído desde 1982.

Desta feita, o júri, constituído por José Correia Tavares, Eugénio Lisboa, Luís Mourão, Luísa Mellid-Franco, Pedro Mexia e Serafina Martins deliberou por maioria. Eugénio Lisboa votou em “O Chão dos Pardais” de Dulce Maria Cardoso. O vencedor foi escolhido entre 85 obras de ficção publicadas por 33 editoras.

O escritor, jornalista e argumentista nasceu em Portalegre, em 1967, vivendo em Lisboa desde a universidade. Foi repórter e hoje é cronista no PÚBLICO. É também co-fundador das Produções Fictícias. Para o cinema escreveu o guião de “Zona J” e, em parceria, o da longa-metragem “Duas Mulheres”. O seu primeiro livro, “E Se Eu Gostasse Muito de Morrer”, de 2006, já vai na 4ª edição, tendo sido publicado em países como Espanha e Hungria.

O livro premiado conta a viagem de um advogado, cego desde criança, e de um menino escuteiro, através de uma Lisboa subterrânea, para onde foram impelidos depois de uma enxurrada enquanto à superfície se tenta encontrar forma de os resgatar. O prémio, segundo ele, surge em boa altura, “depois de ter passado meses complicados, com muitas responsabilidades familiares”, aludindo à morte, em 2009, da mulher - a jornalista, crítica literária e editora Tereza Coelho.

Depois da “tragédia pessoal”, surgiu “alguma confusão e também desânimo.” Agora diz-se outra vez pronto para a escrita. “Com a ajuda dos amigos adquiri força. É preciso muita para escrever. Não levo isto de forma fácil. É-me difícil. É uma responsabilidade grande, de forma que quando começo já tenho que ter energia para o começar. E agora espero ter. Já que o Benfica não acerta.”

Foi exactamente ontem que decidiu que iria voltar à escrita. Espera-o o terceiro livro. “Assim, com o prémio, parece que faz mais sentido”, diz. E volta a brincar com o seu clube. No ano passado o Benfica foi campeão. Agora já conta três derrotas em quatro jogos para o campeonato. “As pessoas do Benfica relaxaram com a vitória. A vitória é um dos grandes problemas dos vencedores. Espero não cair nessa armadilha”, brinca.

Mas não é só o Benfica. O prémio chega em boa altura, por outra razão. Nas férias tinha perdido os contactos do telemóvel. “Agora as pessoas telefonam-me, ou enviam mensagens, para me felicitarem, e fico outra vez com os números dos meus amigos.”

Notícia actualizada às 18h52
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