O rasto de Vic na vida de Paula

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O pintor Victor Willing foi marido de Paula Rego, mas nunca tínhamos visto nada dele em Portugal. Agora, duas exposições na Casa das Histórias, em Cascais, retrospectiva de Willing e pinturas de Rego dos anos de 1970, documentam o rasto deixado por Vic na vida e na obra de Paula.

Diante do quadro Place, do pintor inglês Victor Willing, Paula Rego diz que compreende melhor o homem que foi seu marido e mentor durante 30 anos. É um tríptico: no centro, numa espécie de palco, objectos pendurados numa corda, uma cadeira vazia. De um lado, a cauda de uma baleia. De outro, desenhos geométricos. "É um retrato muito bom do Vic", disse a pintora à Pública esta semana, dias antes da inauguração da exposição retrospectiva de Victor Willing na Casa das Histórias (Museu Paula Rego), em Cascais.

Há um palco, vazio, uma encenação "naqueles objectos, e tudo se conta ali", diz Paula Rego. Place é a sua obra de eleição, aquela de Vic (como lhe chamam os amigos) que considera mais poderosa. "Não é como outras, que são mais violentas, assertivas, em que se vêem mais linhas pretas à volta." Não, esta é um palco que nos puxa lá para dentro: "A ausência da presença dele é muito comum. O sítio onde ele esteve, mas já lá não está. Ele foge e fica o sítio, que conta uma história, também. Fica o seu rasto, um rasto muito forte que ele deixa naquele quadro. É um rasto muito belo."

Esta retrospectiva de Victor Willing (1928-1988) é inédita em Portugal. São 80 peças: pinturas e desenhos do período desde a saída de Victor Willing da Slade School of Fine Artes, em Londres (onde conheceu Paula Rego), em 1953, até cerca de 1960; pinturas e desenhos entre 1974 e 1984, depois da qual já não consegue trabalhar em grande escala; e uma série de cabeças pintadas entre 1984 e 1987, nos últimos anos da sua vida. O pintor morreu em 1988, de esclerose múltipla.

Paula perguntava, diante do seu quadro O Regicídio (1965): "De que cor devo pintar o fundo?" Vic respondia sempre: "De verde." A pintora conta isto numa entrevista a Marco Livingstone, comissário da grande exposição retrospectiva de Rego no Museu Reina Sofia, em Madrid, em 2008.

À Pública afirma, peremptória: "Não há diálogo entre os quadros dele e os meus. Não há diálogo porque ele e eu éramos totalmente diferentes. Eu bem tentava fazer como ele fazia, mas não era capaz. São mundos completamente separados: eu conto histórias nos meus quadros. Para ele, o quadro em si é uma presença total, como se fosse uma escultura que ele pintasse, como se fosse uma pessoa. Os meus, não. São coisas aos bocadinhos. Era uma vez um gato maltês tocava piano e falava francês: isso são os meus quadros. Ele era o pintor; eu faço bonecos e já não é mau." Esse é o rasto deixado por Vic na vida e na obra de Paula Rego - o do homem que foi seu mentor intelectual, o "pintor".

A pintora está visivelmente feliz com a exposição de Vic na Casa das Histórias, o seu museu. "Ficou maravilhosamente bem", disse. "Parece que esta casa foi feita de propósito para eles: a escala dos quadros, o tamanho das paredes. Há qualquer coisa que acerta. É engraçado, não é? Já os tinha visto na Whitechapel, em Londres [em 1968], e noutros sítios. Mas nunca tão bem como aqui. O espaço é perfeito."

Londres aos 16 anos

Paula Rego foi estudar para Londres aos 16 anos porque o pai lhe disse que "este país [Portugal] não é para mulheres". Foi um caminho irreversível, porque a pintora fez aí a sua formação académica na Slade School entre 1952 e 1956, onde conheceu Vic Willing, dois anos mais velho e já casado. Escreve John McEwen amigo da família e autor da biografia de Rego: "Tinha 24 anos, era inglês, e era o mais intelectualmente activo dos alunos. Arreliava os professores ao armar-se em dandy e era influente por convidar Francis Bacon para ir à escola dar seminários. (...) Como pintor, Vic (como sempre foi conhecido) era considerado uma estrela ascendente - uma promessa que não cumpriu efectivamente até aos últimos anos da sua vida."

A primeira filha do casal, Caroline, nasce em 1956, no último ano de Paula na Slade. Em 1957, mudam-se para Portugal, e vivem na Ericeira. Vic e Paula casam-se em 1959. Tiveram mais dois filhos: Victoria e Nicholas. Entre 1957 e 1962, viveram em Portugal. A John McEwen, Paula Rego falou do isolamento e a sua ânsia por companhia. Vários amigos do tempo da Slade visitavam-nos, mas não era o suficiente. Compraram uma casa em Camden Town, em Londres, e passavam os Invernos em Londres e os Verões em Portugal.

O pintor e a desenhadora

Em 1963, Victor Willing, 35 anos, sofre um ataque cardíaco. Na sua convalescença, Paula canalizou a sua angústia para The Exile, uma das suas pinturas favoritas, "verdadeira ao seu sentimento", disse a Marco Livingstone.

A admiração intelectual de Paula Rego por Vic Willing está documentada em muitas entrevistas da pintora. À Pública, em 2008, disse: "O Vic que sempre me deu... não é bem a confiança. Era: desenha, desenha, desenha. "Não sabes o que hás-de fazer? Desenha." Foi bom, que eu não sabia nada. Aprendi bastante com ele. (...) Dizia-me agora: "És muito boa, tens muito talento"... Dizia: "Faz como quiseres. Faz como quiseres." Uma vez pôs à minha frente um vaso azul com laranjas encarnadas - era como o Matisse. Eu detesto o Matisse! "Faz isto, faz isto." Eu não sabia fazer aquilo, aquilo não me queria dizer nada, não tinha história nenhuma."

Paula detesta Matisse, Vic ficava esmagado com a força da cor dos quadros deste. "O Vic tinha uma grande admiração por Matisse; para Paula, Matisse não tinha importância nenhuma. Nestas diferenças de relação com pintura, sempre se entenderam muito bem. Na relação deles, "era sempre Vic o crítico mais importante, e com mais entendimento do que a Paula fazia", disse à Pública o historiador de arte Hellmut Wohl, comissário da retrospectiva de Willing em Cascais e amigo pessoal da família.

Se Paula Rego diz que não há diálogo, também não há uma contaminação artística. A obra da pintora muda radicalmente após a morte de Willing em 1988. Wohl explica que, "até ao princípio dos anos 1980, Paula tinha trabalhado em colagem. Aquela fase de quadros grandes sobre literatura só começa depois da morte do Vic. Ele era um pintor muito importante para ela, que se considerava mais uma caricaturista, que fazia ilustrações."

Ele era o pintor; ela fazia bonecos. Ele estava interessado em teoria, psicanálise, filosofia, Nietzsche, e o existencialismo de Camus; ela em literatura, pura e dura, histórias de contar e encantar, contos populares, de fadas, da infância. "Para a Paula, desenhar é essencial", explica Wohl. "Para Vic, desenho é uma coisa, pintura é outra. Quando faz pintura trabalha logo com o pincel directamente na tela. Paula não tinha interesse pela capacidade de pensar nas coisas digamos fundamentais da pintura, como o espaço, a presença do objecto, a cor, estrutura composicional do quadro, que são fundamentais da pintura do Vic."

No fundo, Paula libertou-se das regras rígidas da pintura tradicional herdadas da Slade. A John McEwen queixou-se de "fazer arte de adulto; aí é que a Escola de Arte foi má para mim. Estava a pintar no cavalate da maneira convencional e perdi o contacto com o ser-se criança". Perdeu a matéria da infância cuja revisitação é o elemento fundamental da sua obra, como explica Ana Gabriela Macedo, especialista em Paula Rego, professora da Universidade do Minho: "Voltar à infância é o fio condutor, as fantasias da infância, os jogos e as brincadeiras, o quarto escuro, o Boggeyman, o papão. A revisitação da infância de Paula Rego, passada nos anos 40 e 50, transpira essa atmosfera de censura, o regresso à infância freudiano está sempre presente como semente da discórdia e do descontentamento."

Mas se Paula queria, no seu regresso à infância, cortar com os elementos estruturais da pintura herdadas da Slade, Vic por seu lado sentiu-se sempre um "escravo" da sua própria educação artística: "A imaginação era o anátema da maneira de pensar da Slade, que se baseava na observação factual. Eu era um pouco rebelde na Slade - costumava escandalizar os meus professores dizendo que admirava Sargent, e tudo isso - mas a partir do momento em que saí da Escola tornei-me escravo das suas estratégias prescritivas. Demorei 20 anos para recuperar, é como o vejo. No intervalo pintei quadros aborrecidos de nus e figuras."

Por causa dessa fidelidade de Willing às regras da pintura, o inglês tornou-se, contudo, o grande impulsionador de Paula Rego. Foi ele quem a encorajou a encarar o desenho de frente. "Não importa o que desenhava, só tinha de pôr o lápis sobre o papel e deixar a imaginação levá-la: "Ele sempre soube que eu era melhor a desenhar do que a pintar." Então ela desenhou e desenhou, e eventualmente as imagens saíram, cruas em cor e atmosfera, como se ela estivesse literalmente a desenhar com as tripas de fora", escreve o biógrafo da pintora.

O fascínio de Willing por Rego - e pela brutalidade bela das suas pinturas documentando o desassossego da censura e da ditadura de um Portugal rural e contraditório - também não era menor. "Vic tinha uma compreensão muito íntima, essencial, do que a Paula estava a fazer", explica Wohl.

O artigo de Willing sobre a iconografia de Paula Rego, "Inevitable Prohibitions", publicado na revista Colóquio-Artes em 1971, "foi um importante incentivo que ele lhe deu para Paula Rego continuar a pintar, para que ela se tornasse na pintora que é hoje", explica Ana Gabriela Macedo. "O tema da obra de Paula, segundo Victor Willing, sempre teve a ver com a dominação, ou melhor, a dominação e a rebelião, a liberdade e a repressão, a asfixia e o escape", escreveu a investigadora em 2008. Macedo publicará em breve Paula Rego e o Poder da Visão - "a minha pintura é como uma história interior" (ed. Cotovia), um estudo sobre as intertextualidades e os entrelaçamentos na obra de Rego. Wohl acrescenta que esse texto de Willing "é talvez a melhor coisa alguma vez escrita sobre a Paula".

Proibições inevitáveis

Talvez Victor Willing só se tenha conseguido realmente libertar das "regras" quando a doença, em estado avançado, o obriga a tomar medicação que lhe provoca alucinações constantes. É daí que surge a série de grandes telas, de três, quatro metros, que têm, segundo Wohl, "a consistência dos sonhos".

Um dia, conta Wohl, estava com Vic no seu atelier em Londres diante de um quadro enorme, Night, "um barco numa sala subterrânea que parece fora de controlo, a afundar-se, quase". A coisa mais fascinante em Willing, para o historiador, "era a certeza absoluta do que queria fazer no quadro: do ponto de vista do espaço, do ponto de vista da cor e da luz e da maneira de aplicar a tinta. De maneira que o quadro nunca parece absolutamente terminado. Como se fosse um esboço. Aplicava a tinta de maneira muito levezinha, de modo que muitas vezes a tela estava à vista por debaixo", explica. As alucinações duraram quatro anos, conta Wohl, mas os quadros que delas resultam "têm a qualidade dos sonhos, a qualidade enigmática, incongruente das imagens que temos nos nossos sonhos". É nesta série que também está Place, o quadro de Vic que Paula prefere.

As alucinações terminaram no início dos anos 80, mas para Willing elas foram uma "espécie de libertação da imaginação para ter mais confiança no seu mundo interior", explica Wohl. "Vic achava que tínhamos uma essência só nossa, que só nós conhecemos. Em vez de um diálogo com um mundo exterior, ele tinha uma conversação (assim mo disse várias vezes) com ele próprio. Daí saem estes quadros enormes que têm uma certeza na luz, na cor, na qualidade da matéria." Dessas grandes telas, Vic Willing disse, em 1985: "Acho que são cenários em que algo aconteceu ou vai acontecer, mas não está a acontecer nessa altura. E, por essa razão, trazem consigo uma disposição de espírito, e acho que é isso que as pessoas reconhecem, porque caíram num idêntico estado de expectativa ou de recordação ao contemplar os quadros."

Para Hellmut Wohl, "os quadros da Paula são um show, o que acontece está em palco, a história, as figuras fazem coisas acontecer". Por outro lado, nos quadros de Victor "há uma ausência da figura que é muito importante: implica sempre a existência de uma personagem que podia estar dentro do quadro, mas já lá não está. É um esvaziamento do corpo: a presença física de um corpo é feita através dessa ausência".

Na entrevista a Marco Livingstone, a pintora passa em revista várias obras, desde 1963 (ano do ataque cardíaco de Vic) até ao momento da exposição no Reina Sofia. Aí revela uma série de presenças (e de ausências) de Vic na sua obra: na forma como um livro que ele estava a ler a influenciava a pintar sobre rituais religiosos gregos de teatro, por exemplo, ou como lhe dizia para pintar desta ou daquela maneira. Três obras se debruçam sobre a figura de Victor: a série Girl and Dog (1986), The Departure (1988) e The Dance (1988). Sobre este último, a pintora explica que Vic morreu antes de o quadro estar pronto. Rego mostrou-lhe uma série de desenhos.

Victor: "Sabes, devias pôr alguns homens aí. É mesmo aborrecido sem homens."

Paula: "Achas?"

Victor: "Sim."

"Ele conseguia ver que aquilo não estava bem: só mulheres a dançar umas com as outras. O que é isso? O único desenho que mantive foi o que fiz depois da sua morte. E depois fiz o quadro. Levou-me eternidades. Pus lá alguns homens, e ele tinha toda a razão. O meu filho pousou para esse quadro e um dos homens é de uma fotografia do Vic", explicou a pintora.

Os bonecos de Paula

Há razões para Paula Rego não ter seleccionado nenhuma peça entre 1966-1980 para a primeira retrospectiva na Serpentine Gallery em 1988 (diz McEwen), nem para a grande retrospectiva no Reina Sofia, 20 anos depois. Essa decisão, conta McEwen, "reflecte a infelicidade desses anos, que começaram com a morte do pai em 1966 e terminaram com a venda da casa na Ericeira em 1979". Nesses anos turbulentos, deu-se o 25 de Abril, a fábrica que o casal herdou do pai de Paula foi à falência, a doença de Victor foi-lhe diagnosticada, com uma progressão degenerativa célere. "A doença tornou-se um enorme fardo sobre a família", escreve McEwen.

Paula Rego chega à Casa das Histórias e ainda estão a montar a exposição que será mostrada em simultâneo com a retrospectiva de Victor Willing, Anos 70 - Contos Populares e Outras Histórias, que apresenta trabalhos da artista da década de 70, pouco ou nada vistos. Dirige-se à mesa onde está Ana Ruivo, curadora da exposição, e diz, com um grande sorriso: "Está muito bem [a exposição]. Agora já não me dá tanta vergonha."

A pintora conta à Pública que está "aliviada" com esta mostra. Afinal, as pinturas, as colagens, os bonecos, toda a série dos contos populares trabalhados durante a década de 70 "não fazem tanta vergonha como pensava". Algumas nunca foram vistas. Diz: "Eu fazia aquilo naquela altura e pensava que assim é que era. Tinha a influência da arte pop e era tudo muito mais lisinho, figuras inventadas. Mais tarde, tinha muita vergonha. Depois já fiz outras coisas diferentes, tantas coisas diferentes, o que é bom."

Na verdade, explica Ana Ruivo, essa "década de 70" começa em 1966, com a morte do pai de Paula Rego, e só termina em 1981. "Há um hiato de tempo brutal, 15 anos de obras no baú, em que se pode pensar que a Paula Rego não fez nada." Ruivo explica que "mais do que uma inércia nas abordagens, ou de ser difícil mostrar trabalhos que estavam em colecções privadas, ou por haver uma aproximação curatorial mais interessada no pós-80 ou 90, a verdade é que a década de 70 acabou por não ser trabalhada de todo, ou, quando o é, surge em colectivas só com uma obra".

Em 1976, a Fundação Gulbenkian atribuiu uma bolsa de dois anos à artista para realizar uma investigação sobre sobre contos populares e contos de fadas de todo o mundo, em Londres, Paris e Lisboa. Para além das obras da época, há os cadernos da autora que documentam a "atenção e o cuidado com que ela geriu toda a investigação em torno dos contos populares e de fadas" e que mostram "um olhar atento de investigador porque são de uma minúcia imensa", explica Ana Ruivo.

Numa entrevista recente, Paula Rego disse que andou perdida "anos a fio": "Cada pintura que fazia era um desastre. E isto continuou por bastante tempo. Só uma coisa continuava a funcionar, porque costumava sentar-me junto à lareira enquanto o Vic andava a tratar das suas coisas, e punha-me a fazer desenhos. Fiz muitos desenhos da casa da minha tia, e da Manuela - a minha priminha, a passear com o avô, e esses desenhos eram muito, muito bonitos. Por isso, continuei a fazê-los. Mas as pinturas sofreram imenso." Esses passeios de Manuela com o avô nos jardins do Casino Estoril estão agora em Cascais, bem como uma série de bonecos tridimensionais executados em tecido, modelos que Paula Rego utilizará durante toda a sua carreira.

Para Ruivo, esta exposição por si comissariada revalida o "processo de inscrição da obra no seu contexto". Ao longo desses 15 anos, escreve Ruivo no catálogo, "experimentam-se caminhos, retomam-se e abandonam-se filões, tenta-se dar corpo a uma compulsão da história e do desenho num período de difícil sobrevivência e gestão familiar": a doença de Victor, a vida doméstica, o crescimento dos filhos, a rotina, a insatisfação permanente.

Assim, mesmo não havendo diálogo ou contaminação artística, a verdade é que hoje as obras de Paula Rego e de Victor Willing estão lado a lado nos corredores da Casa das Histórias, documentando anos de (con)vivência e de partilha íntima da matéria dos sonhos.

O crítico de arte britânico e amigo da artista, Waldermar Januszczak, escreveu no jornal Sunday Times, que Victor era "um artista fabuloso por direito próprio" mas que continua a ser "mais conhecido como "musa" de Paula Rego". "Há aspectos sombrios da sua relação com Victor que é preferível manter na esfera privada", diz Januszczak. Quando perguntou a Paula Rego como se sentia estando sob o domínio de Willing, ela respondeu-lhe que adorava que assim fosse: "Eu não sabia sob que outro domínio estar, excepto sob o dele. Eu amava-o. É só isso." a

raquel.ribeiro@publico.pt

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