Milhões de litros de esgoto não-tratado foram parar a reserva de água que abastece Beja

Situação verificou-se durante uma semana, no fim de Agosto. Administração Regional Hidrográfica desconhece.

Durante oito dias, milhões de litros de esgoto não-tratado misturaram-se com a reserva de água que tem por função abastecer quase 50.000 habitantes dos concelhos de Beja e Aljustrel.

No final do passado mês de Agosto e durante uma semana, foram feitas descargas de efluentes urbanos através da rede do sistema pluvial da cidade de Beja. Os esgotos não-tratados seguiram por uma linha de água para a ribeira do Roxo que serve a albufeira do mesmo nome.

Não foi a primeira vez que aconteceram descargas de esgotos domésticos para a rede pluvial. Em Maio e Junho passados e por períodos de tempo que variaram entre 10 e 15 dias já tinha ocorrido o mesmo.

Desta vez, o resultado foi um cheiro intenso e desagradável libertado pelo esgoto que corre a céu aberto, por uma vala localizada a apenas cinco metros da ciclovia que contorna a zona urbana de Beja.

A linha de água por onde circulou o esgoto é a mesma que recebe os efluentes libertados pela Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da bacia do Sado.

É "grave", admite autarca

O PÚBLICO confirmou que o caudal formado pelo esgoto não-tratado se misturava com o que recebe tratamento na ETAR e que o caudal assim formado seguia em direcção à albufeira do Roxo. Uma situação que ajuda a degradar a qualidade da água bruta e, além disso, força as finanças municipais a gastos elevados, no tratamento da água, para a tornar potável.

Em anos anteriores, este espelho de água foi afectado pela presença ou a ameaça de cianobactérias e o aparecimento de peixe morto, um desastre ambiental que já obrigou, por duas vezes, à captura de mais de uma centena de toneladas de peixe.

O vereador José Velez, responsável pelo pelouro do Saneamento Básico da Câmara de Beja, confirma a existência de descargas, admitindo que a situação era "grave". Mas atribuiu as causas ao comportamento de alguns moradores que lançam "clandestinamente" o esgoto que produzem nos ramais da rede pluvial, a entupimentos dos colectores ou a causas "ainda não detectadas". O autarca garante que nas duas situações referenciadas pela Empresa Municipal de Águas e Saneamento - o PÚBLICO registou três situações - "os serviços actuaram prontamente para normalizar a situação e procederam à limpeza das linhas pluviais afectadas".

Ficou por explicar como é que o esgoto corre ciclicamente, em grandes quantidades e ininterruptamente, por períodos de tempo que variam entre uma e duas semanas.

A Administração Regional Hidrográfica do Alentejo (ARH) diz não ter "conhecimento da ocorrência de descargas de efluentes urbanos através da rede de drenagem de águas pluviais" em Beja. A "confirmar-se a prática descrita", a ARH admite que poderá abrir "processoa de contra-ordenação ambiental".

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