O pesadelo dos adolescentes

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As borbulhas afectam a imagem e a auto-estima. São a principal razão que leva os jovens ao dermatologista.

Ana tem 16 anos e um rosto sem imperfeições, de onde se destaca um bonito sorriso. Mas nem sempre foi assim. Há três anos esta estudante do secundário não tinha motivos para sorrir. "Tinha tantas borbulhas na cara que me sentia um monstro", diz à Pública. A adolescente não queria estar com os amigos - "principalmente os rapazes" - e, apesar de ser aluna de "quatros e cincos", nem à escola queria ir, de tal forma que as notas baixaram.

O acne, que afecta principalmente os adolescentes, é a principal razão que os faz procurar a ajuda de um especialista.

"A acne é uma doença crónica que se pode manifestar em diferentes períodos ao longo da vida e não deve ser considerada de ânimo leve. Para além das marcas físicas visíveis, tem repercussões ao nível emocional e psicológico, como o isolamento, a depressão, a ansiedade ou o insucesso escolar", explica a dermatologista Manuela Cochito.

Esta especialista diz que é preciso distinguir o aparecimento de duas ou três borbulhas por mês, de duas ou três borbulhas por dia. "Enquanto o primeiro caso pode ser tratado com cosméticos, o segundo exige cuidados médicos."

Recuperar a auto-estima

Pelo consultório de Manuela Cochito já passaram muitas dezenas de jovens assustados com o problema das borbulhas. "Há que desdramatizar e explicar a doença para evitar a perda de auto-estima, já que a sociedade valoriza cada vez mais a imagem", diz a dermatologista. E acrescenta que há que olhar para o jovem como um todo. "Há adolescentes que chegam aqui com o cabelo a tapar o rosto e com o olhar no chão. À medida que o tratamento vai decorrendo, vemos a confiança a aumentar, de tal forma que até cortam o cabelo e já sorriem para nós. É muito gratificante."

É então possível controlar a acne com tratamento médico adequado a cada caso. De acordo com a especialista, peelings de regulação sebácea e limpeza das células mortas, a administração de produtos de dermocosmética e a toma de antibióticos são alguns dos procedimentos feitos em consultório que apresentam bons resultados. "Os peelings que se fazem em gabinetes de estética são fracos e pouco eficazes", adverte a médica.

Quanto à administração de antibióticos, podem causar secura nos lábios e até provocar escamação da pele. Manuela Cochito diz que nestes casos apenas se deve reajustar a dose, já que este tipo de tratamento tem apresentado bons resultados.

Importa ainda ressalvar que, independentemente da gravidade do acne, os resultados só começam a ver-se passadas algumas semanas de tratamento.

Aparecem porquê?

Mas afinal o que causa o aparecimento de borbulhas? "Uma questão genética ou o despertar hormonal", explica a dermatologista. Os poros contêm glândulas sebáceas que produzem sebo para proteger a pele das agressões exteriores. As alterações hormonais próprias da adolescência levam a pele a produzir quantidades excessivas de sebo que se acumula nos poros, juntamente com as impurezas e com as células mortas, e dão origem ao aparecimento de imperfeições, como borbulhas, mais ou menos profundas, e pontos negros.

Afecta tanto os rapazes como as raparigas, pois ambos produzem hormonas. No caso das raparigas, as modificações que ocorrem durante o período menstrual podem piorar as lesões do acne.

Um dos erros mais frequentes é o de espremer borbulhas e pontos negros. Segundo os especialistas, isso não se deve fazer. Tratando-se de uma infecção, só vai contribuir para que esta se alastre. E, em vez de uma, aparecem várias borbulhas.

Alguns casos podem ser solucionados pela cosmética. Foi o caso de Mafalda Dias, de 19 anos, estudante universitária, que se lembra da primeira vez que as borbulhas surgiram. "Foi um ano depois de me ter aparecido o período. Doíam-me muito. A sorte é que desapareciam em três ou quatro dias."

Mafalda consultou um dermatologista que lhe recomendou a limpeza diária da pele, de manhã e à noite, uma esfoliação uma ou duas vezes por semana e o uso de um creme hidratante. É o que faz até hoje e é um exemplo a seguir relativamente aos cuidados diários. "Também uso uma caneta para acelerar a secagem das borbulhas", conta.

Como a prevenção é sempre uma boa solução, a limpeza adequada - em que não pode faltar uma esfoliação suave que não agrida a pele - reforça a eficácia dos tratamentos e previne as marcas.

Mas nem tudo são dramas e há casos que até têm a sua graça, como o que Helena Cardoso contou à Pública: o de um sobrinho que numa fase da adolescência começou por ter algumas borbulhas na testa. "A quantidade de creme que ele aplicava era tal que o creme chegava sempre ao cabelo. Com a continuação, acabou ganhar uma mecha de cabelo louro". a

mito@publico.pt

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