Viva o Zé da Guiné

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No P2 de ontem, Vítor Belanciano falava do meu amigo e mestre Zé da Guiné. O Vítor identificou a grande injustiça: "Pessoas como o Zé da Guiné (...) nem sempre são reconhecidas pela sociedade civil como artistas, mas não são eles outra coisa, impulsionando e fazendo acontecer a cidade com a sua acção".

Zé da Guiné é um grande artista. Não foi só uma inspiração, um exemplo e um catalisador, embora também fosse essas coisas. Criou ambientes e criou mentalidades. Abriu caminhos e diversões. A noite de Lisboa era fechada, triste, mesquinha e clandestina antes do Zé e do Manuel Reis, cada um à maneira dele. Contra todas as más vontades, burocracias, pessimismos e letargias, estes dois artistas públicos conseguiram abri-la, alegrá-la, engrandecê-la e mergulhá-la no presente.

A grandeza do Zé é ser sempre generoso ao ponto do apagamento. Deu as ideias e ofereceu o que descobriu. Não se limitou a partilhar toda a extraordinária imaginação, inteligência e esperança que o moviam. Ofereceu-as. Até conseguia convencer os que ele ajudava, com elegante bondade, que as ideias eram deles. Agora seria uma boa altura de nos lembrarmos de quem eram.

Esta majestática modéstia do Zé tramou-o. Agora está doente e todos nós que ele ajudou temos de ajudá-lo. Como sempre, ficaremos a ganhar. Lisboa deve muito ao Zé da Guiné. Tenho a certeza que António Costa e a Câmara de Lisboa estarão à altura de ajudar quem tanto ajudou Lisboa a ser como Lisboa é.

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