CARTAS À DIRECTORA

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Mestrados cresceram 600 por cento

Transcreve, segundo creio, de informação do MCTES (Ministério da Ciência e da Tecnologia do Ensino Superior), o PÚBLICO na edição de dia 15 do corrente mês, a "sensacional" notícia que as matrículas em mestrados nas universidades portuguesas cresceram 600% de 1995/96 até ao ano de 2009/10.

Mais uma vez vem à memória Bertrand Russel: "Há mentiras, grandes mentiras e estatísticas."

De facto, os números referem-se a realidades completamente diferentes. Em 1995, antes da adopção do "bolonhês", as licenciaturas tinham a duração de quatro ou cinco anos, conforme os cursos. Um mestrado correspondia a mais um ano de escolaridade, pelo menos, seguido de mais outro ano para a elaboração da dissertação. No mínimo, seis anos de estudos superiores, podendo ascender a sete (anos de dissertação incluídos)!

As conclusões "bolonhesas" comparam o que não é comparável. Servem para mascarar, somente, que as actuais licenciaturas (3 anos) só servem para tirar o mestrado (pago a peso de ouro). Para o incauto leitor, esta informação do MCTES legitima a falácia, oficial, de que nos estamos a aproximar da Suécia em termos de investigadores, doutorados, etc., etc. Haja decoro. Pelo menos na legislação actual que põe em pé de igualdade um licenciado de cinco anos com um de três. A propósito, o nosso bolonhês tramou o irmão e era bígamo. Não são precisos clones!

João Coutinho Duarte, Lisboa

O que há de diferente?

A comunicação social acaba de publicitar que o PS se prepara para expulsar dos seus cadernos cerca de cem militantes, acusados de não terem seguido as instruções partidárias aquando das últimas eleições autárquicas. Admito não ser a pessoa melhor posicionada para comentar estas notícias, pela simples razão de não ter qualquer filiação partidária e, quando a tive, jamais ter seguido instruções partidárias que conflituassem com as minhas convicções.

A circunstância leva-me, porém, a colocar em confronto os comportamentos das máquinas partidárias que se dizem democráticas e, consequentemente, querendo-se situadas nos antípodas do que se praticava no regime ditatorial, derrubado em 25 de Abril de 1974.

Narciso Miranda protesta em duas frentes: não aceita ser punido enquanto Manuel Alegre o não for, e por maioria de razão, por nunca lhe ter sido dado oportunidade de se defender da acusação ou acusações que lhe são assacadas. (...) Estaremos, portanto, em presença de punição sumaríssima que, para além de outras atenuantes, não considera na aplicação da pena a colaboração que o militante prestara ao partido durante décadas em que pugnou pelos ideais socialistas. Não concordou uma única vez com a ordem do "chefe" e logo conhecerá a expulsão.

Para procurar diferenças ou semelhanças com o agora praticado e o que acontecia no tempo da "outra senhora", nada melhor que transcrever uma passagem do livro da autoria de António Simões do Paço, com o título Salazar, O Ditador Encoberto. A propósito da Constituição de 1933, relata ele que o então ministro do Interior, Albino dos Reis, anuncia que se submete a debate público "livre e aberto" [o projecto de nova Constituição], Porém, o general Vicente de Freitas, ex-presidente do ministério, vira provado o contrário, quando depois de apresentar um projecto alternativo, toma conhecimento pelo Diário da Manhã, órgão do regime, que a sua proposta é rotulada de "anticorporativa", e, no dia seguinte, é demitido da presidência da comissão administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, com o fundamento explícito de que se opõe ao novo projecto de Constituição.

Não obstante a distância temporal entre um e outro dos eventos, e as profissões de fé dos actuais políticos afirmando e reafirmando a democracia das suas organizações políticas, a verdade parece existir no ditado popular: só as moscas é que mudaram.

A. Álvaro de Sousa, Valongo

Uma justiça laxista

A leitura da sentença da Casa Pia foi adiada pela segunda vez em um mês e passou para 3 de Setembro com manifesto prejuízo psicológico das vítimas. Perante a complexidade do processo, a juíza presidente não teve capacidade de prever o tempo para a elaboração da sentença. Também os senhores procuradores do caso Freeport, que durou seis anos, não tiveram tempo para fazer 27 perguntas ao primeiro-ministro! Sem rigor e escudados num estatuto corporativo, juízes e procuradores reinam à solta na justiça, em que a única voz que clama é a de Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados. Passos Coelho falhou o tiro. Um dos mais graves problemas do país está na justiça, que bem merecia um sério debate civil a nível institucional. Que partido/partidos o conseguirão fazer? Que instituições como a Fundação Mário Soares? E os candidatos à Presidência da República?

Em Portugal a justiça é intemporal e politicamente limpa.

José Raimundo Correia de Almeida

Santo António dos Cavaleiros

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