Torne-se perito

Candidatura comunista é um "projecto inconfundível"

Francisco Lopes quer "contribuir para derrotar" uma recandidatura de Cavaco

Críticas aos mandatos governativo e presidencial de Cavaco Silva, ataques velados às candidaturas de Manuel Alegre e Fernando Nobre e um claro apelo ao voto dos eleitores descontentes - a primeira declaração de Francisco Lopes enquanto candidato presidencial, ontem, cerca de uma hora depois do anúncio feito pelo secretário-geral, Jerónimo de Sousa, antecipou já alguns dos temas que vão integrar a campanha eleitoral dos comunistas.

A apresentação formal da candidatura está já agendada para 10 de Setembro, em Lisboa, conforme foi divulgado, mas as palavras de Francisco Lopes, deputado e membro da comissão política e do secretariado do Comité Central (CC), deixaram antever que o PCP aposta numa segunda volta das eleições presidenciais. Algo, aliás, admitido pelo próprio líder na conferência de imprensa de apresentação do candidato comunista, aprovado por "unanimidade e aprovação" pelo CC.

Num discurso que insistiu na necessidade de dar um "novo rumo" ao país, Lopes distanciou-se dos restantes candidatos da esquerda, apontando que a candidatura do PCP "protagoniza um projecto próprio e inconfundível" e não representa "posicionamentos ambíguos". O comunista não nomeou qualquer dos seus adversários à esquerda, mas a palavra "ambiguidade" já tinha sido utilizada por Jerónimo de Sousa para caracterizar as candidaturas de Manuel Alegre e de Fernando Nobre.

Considerando que a entrada dos comunistas na corrida a Belém é uma "necessidade incontornável" num momento crítico para o país, Francisco Lopes introduziu um tema actual do debate político - a revisão constitucional -, notando que o Presidente da República "deve intervir de forma inequívoca" na defesa da Constituição. E, sob este pretexto, apontou a "prática negativa seguida" por Cavaco Silva "sobre as suas reais responsabilidades na situação que o país vive, quer pelos dez anos em que foi primeiro-ministro, quer pelo seu mandato como Presidente da República". Neste âmbito, acrescentou, a candidatura do PCP quer "contribuir para derrotar" Cavaco Silva, "cujo eventual sucesso configuraria a persistência dos problemas nacionais e um salto qualitativo no seu agravamento".

Francisco Lopes, escolhido pela sua "dimensão institucional" no PCP, pelas suas ligações ao mundo do trabalho e pela "boa capacidade de argumentação", enumerou Jerónimo de Sousa, transmitiu também que o partido está apostado em ir a votos, pelo que ontem deixou um apelo aos eleitores "inquietos e atingidos" pela crise, frisando que a sua candidatura é dirigida a "todos os democratas e patriotas".

Os primeiros adversários a reagir à candidatura de Lopes foram Alegre e Nobre. O candidato apoiado pelo PS e Bloco de Esquerda considerou-a "útil", descartando a hipótese de divisão da esquerda. "Nunca se perdeu uma eleição por culpa do PCP", afirmou. Nobre considerou que Lopes irá "enriquecer o debate", concluindo: "Quanto mais formos, melhor". Maria José Oliveira

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