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Sócrates avisa PSD que não tem medo de eleições e que não cede no Estado Social

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Mangualde foi o palco da reabertura do ano político NÉLSON GARRIDO

No comício de Mangualde, o secretário-geral do PS rejeitou "chantagens e ameaças" e diz que não troca acordo do OE por propostas de revisão da Constituição

Foi um aviso sem contemplações que José Sócrates reservou para o fim do seu discurso de reabertura do ano político em Mangualde. Com um destinatário único. Obviamente Pedro Passos Coelho, um nome que nunca citou. "Se há alguém no PSD que pensa que pode trocar a revisão constitucional por qualquer apoio para qualquer Orçamento do Estado, desengane-se! O PS não cede a nenhuma chantagem, a nenhuma ameaça", declarou José Sócrates. "Nós não temos medo!", proclamou ainda o secretário-geral do PS, arrebatando os aplausos e gritos de "PS! PS!" às centenas de apoiantes que ontem se concentraram na praça do município de um concelho que o PSD perdeu nas últimas autárquicas para os socialistas.

Para o centro de todos os ataques, o líder socialista decidiu trazer as propostas mais controversas que a direcção de Pedro Passo Coelho colocou na agenda política no âmbito da revisão da Constituição. "Radical, extremista", chamou-lhe Sócrates, acusando o PSD de acenar agora com "instabilidade e a crise" para tentar atenuar os prejuízos políticos que as últimas sondagens revelaram. A começar na substituição dos despedimentos sem justa causa pela fórmula de "razão atendível". "Não estamos disponíveis para deitar ao caixote do lixo um consenso social, aceitando que o despedimento de um trabalhador possa ser por motivo atendível apesar de ser injusto", declarou. Seguiu-se um sonoro "não" à alteração do princípio de um SNS (Serviço Nacional de Saúde) tendencialmente gratuito. E carregou nas tintas. "A dignidade da vida humana e o combate ao sofrimento deve ser o valor principal", argumentou Sócrates, para quem aquilo que o líder social-democrata quer é dar aos ricos os meios sofisticados de cuidados de saúde, deixando os mais pobres de fora.

"Não pode ser! Não pode ser!", ouviu-se na multidão. Galvanizadas as hostes, Sócrates chegou mesmo a trazer para Mangualde o exemplo da reforma de saúde do Presidente dos Estados Unidos, tentando fazer vingar a tese de que o PSD está enquistado no passado, divorciado do seu tempo. Ergueu-se, depois, como o garante da defesa da escola pública, "o legado mais importante da República", porque o PS "quer garantir que todos os portugueses terão acesso ao bem mais precioso de todos - o conhecimento". Finalmente, os impostos. Acusando o PSD de querer tirar da Constituição o princípio da progressividade fiscal, ou seja "eliminar" a garantia de que quem ganha mais paga mais impostos. "O PSD deve explicar ao país porque é que acha que todos devem pagar o mesmo", desafiou. Uma a uma, José Sócrates empunhava as bandeiras do Estado social e prometia não as largar, mesmo que Pedro Passo Coelho "queira esquecer essa discussão". "É espantoso como o PSD parece ter desistido dos ideais da justiça e da solidariedade, os ideais mais nobres das democracias representativas", atirou ainda.

O contra-fogo de Sócrates estava anunciado. Há oito dias, na festa do Pontal, chegou o aviso. Passos acenava a possibilidade de não viabilizar o OE. Impôs calendários e chegou a desafiar o Governo a devolver a palavra aos portugueses. "É o discurso da leviandade e da irresponsabilidade, que não traz nada de bom ao país", respondeu ontem Sócrates, que gastou boa parte do discurso a enumerar a obra feita, a orgulhar-se com o crescimento da economia, a jurar que as contas públicas estão "no bom caminho" e a prometer mais ambição. "É bom que se lembrem que o PS não chegou ao Governo através da escada de serviço, ganhámos as eleições e era bom que respeitassem o resultado", disparou. Antes, José Junqueiro chegou mesmo a comparar Passos Coelho "às carpideiras que choram sem emoção, que choram por contrato" por ter visitado um concelho PSD, esquecendo todos os outros fustigados por incêndios.

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