Cancro é a doença com maior impacto económico no mundo, conclui estudo inédito

Em termos de mortes e perda de produtividade, o cancro representou 1,5 por cento do produto interno bruto mundial em 2008

O cancro é a doença no mundo com maior impacto económico, pelas mortes e perda de produtividade, revela um relatório da Sociedade Americana do Cancro, que vai ser divulgado amanhã no Congresso Mundial do Cancro em Shenzen, na China.

Em 2008, as perdas económicas devido ao cancro (ou cancros, já que cada um é uma doença diferente) ascenderam aos 895.000 milhões de dólares (698.000 milhões de euros), segundo dados do relatório citados pela agência Associated Press. Estes números representam 1,5 por cento do produto interno bruto mundial. Morreram cerca de 7,6 milhões de pessoas com cancro no mundo em 2008, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). E todos os anos são diagnosticados cerca de 12,4 milhões de novos casos. Obesidade e tabaco são os grandes culpados pelo aumento das doenças crónicas, cancro incluído.

Em termos de perdas de produtividade e de vidas humanas, o cancro ultrapassa a sida, a malária, a gripe ou outras doenças contagiosas, sublinha ainda o relatório. De facto, as mortes por cancro ocupam o primeiro lugar a nível mundial, sendo secundadas pelas mortes provocadas pelas doenças cardíacas, cujos impactos económicos foram estimados em 753.000 milhões de dólares (587.000 milhões de euros).

"Os problemas de coração atingem as pessoas mais no fim da vida. O cancro atinge-as mais cedo", diz Hana Ross, um dos autores do estudo da Sociedade Americana do Cancro.

No estudo, que teve o patrocínio da Livestrong, a fundação do ciclista Lance Armstrong (que superou um cancro), não se olhou para o dinheiro gasto nos tratamentos. Antes, olhou-se pela primeira vez para os seus efeitos na produtividade global. Teve por base relatórios da OMS e dados económicos do Banco Mundial, que permitiram calcular o impacto da doença no tempo de vida de uma pessoa, na sua incapacidade e produtividade.

E em Portugal

"O interesse deste estudo é o de reforçar a ideia de que vale a pena investir no cancro. Está mais do que provado que não tratar o cancro é muito mais caro do que tratá-lo", comenta Jorge Espírito Santo, presidente do Colégio da Especialidade de Oncologia da Ordem dos Médicos.

Num estudo que efectuou em 2009 com outros especialistas, Jorge Espírito Santo concluiu que os custos directos (hospitalização, tratamentos, etc.) do cancro em Portugal ascendiam a 53 euros per capita por ano, menos de metade do que se gastava em doenças cardiovasculares. Só a República Checa, a Hungria e a Polónia investiam menos no cancro.

Tal como no estudo para o mundo da Sociedade Americana do Cancro, a equipa de Espírito Santo calculou o impacto e o fardo desta doença em Portugal (anos de vida perdida devido a morte prematura e o número de anos com incapacidade). Só o fez, no entanto, numa base percentual e com dados de 2002: no total das doenças em Portugal, o fardo do cancro representava 15,3 por cento, contra 18,6 por cento para as doenças cardiovasculares.

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