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Hipers e supermercados já dominam mercado do pão

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Hoje, o pão é vendido sob duas lógicas comerciais distintas RUI GAUDÊNCIO

Indústria da panificação e pastelaria em Portugal factura mais de cinco mil milhões de euros por ano e emprega 77.400 trabalhadores

A maior parte do pão vendido nos supermercados e nos hipermercados é produzido pelas próprias superfícies comerciais, que já são responsáveis por quase metade da venda deste produto ao público. A sua quota de mercado subiu de 30 para 40 por cento no espaço de um ano, diz a Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP).

Comprar pão acabado de cozer na padaria do bairro todas as manhãs não é um hábito que se encaixe na lógica da grande distribuição, onde se entra a correr de carrinho na mão e quase nunca se compra um único artigo. Os dois mundos convivem lado a lado desde a explosão dos hipermercados em finais dos anos 1980 e, hoje, o pão é vendido sob duas lógicas comerciais distintas.

Fonte da direcção comercial alimentar do grupo Os Mosqueteiros explica que as vendas deste produto pesam cerca de 1,12 por cento no total da facturação das suas lojas da área alimentar (Intermarché e Ecomárché), onde 45 por cento da totalidade do pão comercializado é produzido internamente. Na Auchan, que detém os hipermercados Jumbo e os supermercados Pão de Açúcar, 70 por cento do pão vendido é produzido pelas lojas. Fonte da empresa refere que há parcerias com 11 fornecedores que entregam o produto nas grandes superfícies, "nove dos quais são praticamente produtos regionais".

Mais de dois terços do que é vendido no Pingo Doce (grupo Jerónimo Martins) é produzido internamente; a cadeia de supermercados tem até uma fábrica de massa fresca e "muitas lojas com padaria própria". O pão pesa 10 por cento nas vendas, refere fonte da empresa.

"Continua a ser usado como forma de marketing pelas grandes superfícies e não é o negócio deles", lamenta Carlos Alberto dos Santos, presidente da ACIP. Pelas contas da associação, o sector vale mais de cinco mil milhões de euros anuais e emprega directamente 77.400 pessoas, a que se juntam 18 mil empresários (cada empresa tem em média dois sócios). Em 2009 havia cerca de nove mil fabricantes em Portugal e 2500 estabelecimentos similares, que revendem os produtos já prontos ou por acabar. Nestes cafés, restaurantes e pastelarias trabalham três mil funcionários e 7500 empresários. Contudo, este ano, o número de empresas deverá ter diminuído. "Têm fechado algumas, mas ainda não temos dados actualizados", diz Carlos Santos, adiantando que, no final do ano, será feito novo levantamento.

Cada trabalhador da panificação e pastelaria produz, em média, 110 euros por dia; nos similares a produtividade atinge os 190 euros. O volume de negócios diário tem-se mantido inalterado nos últimos oito anos, sobretudo devido à inflação, mas o consumo per capita de pão já não atinge os 150 quilos anuais que se verificavam até final da década de 1980.

"Começou a decrescer e hoje estamos com cerca de 100 quilos per capita por ano, consequência de muitos ataques como "o pão engorda" ou "o pão é salgado"", lê-se num estudo elaborado pela ACIP o ano passado.

Para além da concorrência das grandes superfícies - que detêm meios agressivos de venda e capacidade logística e de escala que permite oferecer preços mais reduzidos -, a indústria também tem vindo a perder consumidores para outro tipo de alimentos de pequeno-almoço, como os cereais. São produtos, diz a ACIP, "que não vão estar abrangidos pela nova lei e que contêm em média cinco vezes mais sal do que o pão".

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