Filha do milionário Tomé Feteira diz que Duarte Lima terá recebido 5 milhões

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Duarte Lima, advogado e antigo líder parlamentar do PSD Foto: Fernando Veludo

Dinheiro estava na Suíça e terá sido transferido para a conta do advogado por Rosalina Ribeiro, que foi assassinada em Dezembro.

A filha de Lúcio Tomé Feteira, o empresário português falecido há dez anos e cuja fortuna terá sido parcialmente desviada pela antiga secretária e companheira (entretanto assassinada, no final do ano passado, no Brasil), afirmou ontem ao PÚBLICO que o advogado Domingos Duarte Lima terá recebido, em 2001, em cinco transferências bancárias, mais de 5,2 milhões de euros. Esse dinheiro, segundo a filha do empresário, poderá ser parte dos muitos milhões que desapareceram das contas do seu pai na Suíça.

"Não sei se Duarte Lima era advogado de Rosalina [Rosalina Ribeiro foi a secretária de Tomé Feteira durante cerca de 30 anos] porque nunca o vi no tribunal. O que sei é que Rosalina sacou o dinheiro todo, quer na Suíça, quer em Inglaterra, quer nos Estados Unidos, e fez as transferências para Duarte Lima", afirma Olímpia Feteira.

A herdeira do industrial, falecido em 2000, acha estranho que o advogado pudesse receber honorários superiores a 5,2 milhões de euros (é essa a soma das cinco transferências de bancos na Suíça) e garante que há muito mais dinheiro desviado de outras contas e noutros países.

"Para já não me quero alongar muito sobre o assunto, uma vez que estamos [a família Feteira e os seus advogados] a ultimar uma comunicação relativamente a este caso", adiantou ainda Olímpia Feteira.

Após a morte de Lúcio Tomé Feteira estalou a polémica relativamente à herança. Rosalina Ribeiro terá perdido uma acção, num tribunal brasileiro, onde reclamou parte da fortuna por, supostamente, ter vivido maritalmente com o empresário. No entanto, o tribunal não lhe deu razão. A filha do empresário quis, desde então, saber o porquê de as contas do pai terem sido movimentadas pela sua antiga secretária e questionou o destino do dinheiro que, não sendo possível, para já, contabilizar, deverá ultrapassar os 30 milhões de euros.

A 7 de Dezembro do ano passado, Duarte Lima, que representava Rosalina Ribeiro, deslocou-se ao Rio de Janeiro para com ela ter uma reunião de trabalho. Em princípio iriam tratar de questões relacionadas com o património da antiga secretária. Terão jantado juntos e, 15 minutos depois de se terem separado, num lugar ermo para onde Rosalina terá pedido para ser levada, a mulher, de 74 anos, acabou por ser baleada. Morreu com dois tiros no peito e um na cabeça. A arma utilizada foi um revólver de calibre 38, o mesmo que a Máfia utiliza nos seus crimes. Também os tiros (todos mortais e um deles dirigido à cabeça) indiciam, de alguma forma, o modo de actuação da mesma associação criminosa.

Duarte Lima afirmou que só veio a ter conhecimento da morte de Rosalina a 21 de Dezembro, numa altura em que já se encontrava em Lisboa e se preparava para viajar para Hong Kong. Nessa altura, como afirmou ao PÚBLICO, enviou um depoimento escrito à polícia do Rio de Janeiro explicando todos os passos que deu com a vítima no dia em que esta foi assassinada.

A PJ fez diversas diligências na Suíça para tentar saber quais as movimentações do dinheiro de Tomé Feteira. Após inúmeros pedidos e troca de correspondência ter-se-á apurado que terá sido Rosalina quem movimentou o dinheiro e que o mesmo terá sido, parcialmente, remetido para uma conta de Duarte Lima. Em Abril de 2001 houve ainda uma outra transferência de 1,1 milhões de euros, a qual terá sido feita para a conta de um homem ainda não totalmente identificado.

O PÚBLICO fez diversas diligências para recolher um depoimento de Duarte Lima, sem que, no entanto, nenhum telefonema tenha sido atendido ou que as perguntas enviadas electronicamente tivessem sido respondidas. Na segunda-feira, por telefone, o ex-deputado do PSD havia dito não poder alongar-se sobre o processo uma vez que o mesmo está em investigação.

Fortuna colossal

Lúcio Tomé Feteira chegou a ser considerado um dos dez homens mais ricos do mundo. Natural de Vieira de Leiria, onde possuía uma fábrica de limas, aventurou-se mais tarde pelo fabrico de vidro. Estendeu os seus negócios por diversos países europeus, mas também africanos e americanos. Foi proprietário de bancos e de minas. Homem decidido e empreendedor, foi amigo de Salazar, mas abandonou-o quando dele discordou. Quando morreu, com 99 anos, deixou os seus bens à filha, Olímpia, e à Junta de Freguesia de Vieira de Leiria. À secretária Rosalina fez uma doação.

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