A maré negra que mudou o mundo

A tragédia do golfo do México vai ter consequências políticas e económicas duradouras

O pesadelo que há 105 dias se instalou no golfo do México está a chegar ao fim. O poço de Deepwater Horizon foi finalmente tapado e falta pouco para saber se a operação foi totalmente bem sucedida. Mas os ecos do desastre vão prolongar-se por muito mais tempo. Esta não foi uma maré negra como as outras. Teve origem num poço em grande profundidade e tornou claros os riscos ambientais deste tipo de exploração petrolífera, vital para o futuro do sector. Levou a uma resposta sem precedente do poder político. Barack Obama sabia bem que o desempenho da sua Administração ia ser comparado ao da Administração Bush quando o Katrina devastou Nova Orleães. O Presidente não podia ser visto como ineficaz na segunda grande tragédia do Luisiana em cinco anos. O corolário é a BP estar obrigada a pagar uma indemnização astronómica que irá afectar a sua dimensão. Terá de vender activos num valor de 30 mil milhões de dólares e precisará de encontrar dinheiro para não ser comprada por um dos seus concorrentes. Onde foi encontrá-lo? Na China, que não perdeu a oportunidade para se posicionar estrategicamente no sector. No centro das atenções permanecerão, como é evidente, as consequências para os habitantes e para o equilíbrio ecológico das zonas afectadas, que são muito sensíveis e já estavam em risco antes do acidente. Mas vão existir outras consequências: as exigências de segurança para este tipo de poços vão aumentar e isso vai ter efeitos nos preços que os consumidores irão pagar.

Mas o lado positivo é que todas estas mudanças decorrem de uma tolerância muito menor às crises ambientais. Desta vez, os poluidores não ficaram impunes.

Reciclagem lenta mas no bom caminho

Os números foram divulgados ontem pelo INE, mas só em parte são satisfatórios. Portugal tem vindo a aumentar a percentagem dos resíduos que envia para reciclagem, mas ainda está longe das médias europeias. Do total de lixo que produz em cada ano, cerca de meia tonelada, cada português entrega para reciclar apenas 12 por cento. O resto vai aumentar os aterros de lixo indiferenciado e pesar no futuro ambiental do planeta. Na Europa, essa média é de 17 por cento, havendo países como a Bélgica e a Suécia que estão ligeiramente abaixo e acima dos 35, ou a Alemanha, que está muito perto dos 50. Mesmo assim, o processo de reciclagem, que em Portugal começou pelo vidro e só mais tarde se estendeu ao plástico, metal, papel e outros materiais, tem evoluído de forma positiva e, desde 2004, os resíduos entregues para reciclar duplicaram. Convém dizer que os municípios que abrigam ecopontos são remunerados à tonelada, consoante o esforço de entrega dos seus munícipes e o material a reciclar. Por exemplo, o vidro vale entre 35 e 60 euros a tonelada e o papel entre 135 e 166, enquanto o alumínio pode chegar a 1283 euros por tonelada. Mas o que importa é o esforço de cidadania associado ao acto. Se, com maior empenho, o lixo se tornar cada vez mais útil, o proveito será de todos.

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