Receitas do serviço ferroviário para Coruche só cobrem nove por cento das despesas

Cartaxo, Salvaterra e Coruche assinaram protocolo com a CP que não estão a cumprir.

A reactivação do serviço ferroviário para Coruche, em Setembro do ano passado, já acumulou desde então prejuízos de 296 mil euros que deveriam ser repartidos entre a CP e os municípios de Cartaxo, Salvaterra e Coruche, numa proporção de 50 por cento para a primeira e 16,66 por cento para as câmaras.

São estas as percentagens que constam de um protocolo assinado entre estas autarquias e a transportadora pública, mas que, segundo o presidente da CP, José Benoliel, não tem vindo a ser cumprido.

De Setembro de 2009 a Junho deste ano o custo da automotora e da tripulação que faz a ligação entre Setil (concelho de Cartaxo) e Coruche, com paragens em Morgado, Muge e Marinhais, foi de 326 mil euros - a CP obteve receitas de apenas 30 mil euros. Metade dos 296 mil euros do prejuízo deveria ser suportada pelos municípios, que prometem para esta semana um comunicado conjunto sobre este assunto.

O regresso do comboio a Coruche aconteceu quatro anos depois de a CP ter acabado com o serviço de passageiros na linha de Setil a Vendas Novas, onde se arrastava uma velha automotora que proporcionava receitas de 550 euros por mês.

A introdução de material moderno e boas ligações no Setil à linha do Norte permitiram colocar Coruche a 1h30m de Lisboa, com receitas de 3000 euros por mês. Insuficiente, mesmo assim, para os custos de exploração da CP - 32.600 euros mensais -, o que dá uma taxa de cobertura de apenas 9%.

A dívida dos municípios - que se comprometeram a assegurar ligações rodoviárias gratuitas da sede do concelho às estações - ascende a 148 mil euros, cabendo cerca de 5000 euros mensais a cada um. Segundo a CP, foram transportados entre Setembro de 2009 e Junho deste ano 34.419 passageiros, o que dá uma média inferior a 20 passageiros por comboio, um valor que se adapta mais a um serviço em autocarro do que ferroviário.

O protocolo entre as câmaras e a CP vigora por três anos, podendo ser prorrogado, e é uma verdadeira experiência-piloto em Portugal de partilha de risco entre autarquias e a transportadora. Os valores em causa - tanto do défice de exploração como do número de passageiros transportados - não são inferiores aos de outras ligações regionais que a CP assegura no resto do país, inseridas no serviço público universal e nas quais as autarquias não são chamadas a cobrir o défice de exploração.

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