Madaíl entre guerra total com Queiroz e paz podre na selecção

Direcção da federação decide hoje se despede o seleccionador
Técnico ameaça recorrer à FIFA
Outro problema é encontrar sucessor

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Queiroz e Madaíl, juntos ou separados depois da reunião de hoje? Enric Vives-Rubio (arquivo)

Avançar para um despedimento por justa causa ou segurar Carlos Queiroz, um seleccionador que acumula detractores dentro e fora da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). É esta a decisão que está nas mãos de Gilberto Madaíl, presidente da FPF, que ontem viu Queiroz ameaçar recorrer à FIFA por entender que o Governo está a interferir na federação.

Madaíl reúne-se esta tarde (a partir da 15h00) com os parceiros de direcção, sabendo que o sentimento geral na estrutura federativa é a favor da saída de Queiroz, não só por causa dos alegados insultos aos médicos da brigada antidoping e ao presidente da Autoridade Nacional Antidopagem (Adop), mas também pela acumulação de casos no estágio da selecção, desde a lesão de Nani ao desentendimento com Deco, passando pelas críticas de Cristiano Ronaldo ao treinador.

Mas tendo em conta que a federação não tem condições financeiras para pagar uma indemnização superior a três milhões de euros e que o técnico não mostrou abertura para uma rescisão amigável, Madaíl só terá pela frente duas soluções extremas. Uma é entrar na guerra jurídica, em que terá de provar que os alegados insultos aos médicos da brigada antidoping são motivos para despedimento por justa causa, algo que é sempre muito subjectivo, como destacaram juristas ouvidos pelo PÚBLICO.

Caso avance para a rescisão, a FPF terá ainda de provar que não teve conhecimento dos factos logo na Covilhã, porque o Código do Trabalho obriga que a entidade empregadora avance para a justa causa no prazo de 60 dias após ter conhecimento dos factos - os alegados insultos ocorreram a 16 de Maio, há mais de dois meses, portanto.

Queiroz ameaça com FIFA

A esta guerra jurídica, Carlos Queiroz juntou ontem mais um elemento, numa entrevista à RTP, em que acusou o Governo - tutela o Instituto do Desporto (IDP), que conduziu o inquérito aos incidentes na Covilhã - de "ingerência na federação", ameaçando recorrer à FIFA, cujos regulamentos impedem a interferência dos governos nas federações nacionais.

Queiroz, que tem contrato até 2012, considerou-se alvo de "um linchamento público", queixando-se de não ter sido ouvido pelo IDP. Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto, está em Moçambique, nos Jogos da CPLP, e ainda não reagiu a estas declarações.

Além de poder vir a ser multado por violação das regras antidoping e de estar a ser alvo de um processo no Conselho de Disciplina da FPF, o seleccionador disse ter confiança em Gilberto Madaíl. "É um homem de carácter e experiente, que certamente irá apoiar o seu treinador, que tomou uma posição no sentido de preservar os interesses da selecção."

Caso Madaíl opte pela continuidade de Queiroz, debater-se-á com o cenário de manter um treinador que reúne poucos apoios na federação. António Boronha, antigo vice-presidente da FPF, foi das poucas personalidades que ontem se mostraram dispostas a comentar o caso, defendendo que não há condições para a manutenção do treinador. "As suas deficiências na condução da equipa e todos estes incidentes no seu comportamento como homem revelam uma instabilidade emocional que não aconselha a sua continuidade como seleccionador", disse Boronha ao PÚBLICO.

O outro problema

O eventual despedimento de Queiroz, porém, não coloca apenas problemas no plano jurídico. "Há que encontrar um novo seleccionador e é necessária uma solução com largo consenso, porque está a haver uma clivagem demasiado grande entre a selecção nacional e os adeptos", diz o antigo "vice".

Considerando que técnicos portugueses como Manuel José ou Paulo Bento não serão consensuais, António Boronha coloca como inevitável a opção por um estrangeiro. "E os grandes nomes custam uma grande quantidade de dinheiro", avisa.

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