Lauryn Hill à moda antiga

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Lauryn Hill está hoje no Terreiro do Paço com a sua voz trabalhadora e discrição militante.

Para muitos milhões de pessoas, Lauryn Hill é a mocinha que há uns valentes anos cantava uma cantiga bonita, "Killing me softly with his song", com os Fugees (isto sem saberem que a canção não era deles). Para uns milhões a menos, Hill é uma exímia voz, capaz de rapar com fluidez e ter fundura soul, autora do magnífico "The Miseducation of Lauryin Hill", já lá vão muitos anos - o disco é de 1998 e é, até certo ponto, o único disco a solo da senhora, já que o "MTV Unplugged" de 2002, por mais autónomo que seja, não é um disco concebido como um conceito.

O mistério da senhora Hill é a relutância em lidar com o seu sucesso, o que implica relutância em lidar com o seu talento. "The Miseducation of Lauryn Hill" mostrava que Hill não ficava minimamente atrás de Wyclef Jean, o principal compositor dos Fugees. Decerto o disco a solo era mais ecléctico do que a habitual produção dos Fugees (se por habitual entendermos uma carreira que durou apenas dois discos), unindo rap a soul, r'n'b' e tudo o que se assemelhasse a música negra. Só que o sucesso tremendo do disco não só levou à dissolução dos Fugees como tornou Hill desconfiada relativamente à indústria musical e à exposição pública em geral. Desde então as suas aparições são mínimas, as digressões idem, as entrevistas raras. No "MTV Unplugged", só com uma guitarra, ela verberava contra a indústria, contra o negócio, a favor da "autenticidade". Por mais ingénuos que os comentários fossem, a entrega em cada canção, essa, era extraordinária. O concerto de amanhã em Lisboa é, por isso, é uma oportunidade única de ver uma verdadeira diva, daquelas que, à moda antiga, se fazem difíceis. Não há desculpas para ficar em casa, para mais tendo em conta que Estelle (a do magnífico dueto com Kanye West, "American Boy") também faz parte do cardápio.

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