Ausência de ligação de Saramago ao Porto justifica não atribuição do seu nome a uma rua

Rui Rio explicou ontem os motivos que levaram a maioria na Câmara do Porto a rejeitar homenagem

A Câmara do Porto deu ontem explicações públicas sobre a rejeição de uma proposta do vereador da CDU, Rui Sá, para atribuir o nome de José Saramago a uma rua da cidade. No site da autarquia na Internet é revelado o teor de uma carta enviada ao PEN Clube Português, em resposta a uma missiva em que esta instituição pedia a revisão da decisão, considerando a edilidade que o caso tem sido objecto de um "aproveitamento político imoral".

No essencial, os motivos invocados pela autarquia prendem-se com o facto de a Comissão de Toponímia ter decidido, em 2002, "apenas aceitar propor nomes de cidadãos com ligação directa ao Porto para ruas da cidade" - uma disposição cuja existência o PÚBLICO não conseguiu ontem confirmar. Rui Rio terá invocado este aspecto durante a reunião em que a proposta foi chumbada, recordando que, "por exemplo, figuras nacionais como Amália Rodrigues, Raul Solnado ou mesmo os marchais [sic] Spínola e Costa Gomes também ainda não têm uma rua no Porto".

"A razão porque [sic] o executivo entendeu não acolher a proposta do PCP, de atribuir o nome de uma rua do Porto a José Saramago, é pois esta, ou seja, a inexistência de uma relação directa com o Porto", lê-se na carta enviada por Rui Rio ao PEN Clube. O autarca acrescenta ainda que, mesmo que esta razão não existisse, a sua "consciência teria muita dificuldade em votar favoravelmente" o nome de Saramago, recordando os "saneamentos políticos de jornalistas que o ilustre escritor promoveu no "Verão Quente de 75" enquanto director adjunto do DN".

"Para quem dá grande valor aos princípios democráticos, é muito difícil ultrapassar atropelos tão graves à democracia, mesmo em nome de um elevadíssimo mérito específico como é o caso do nosso Prémio Nobel da Literatura", escreveu ainda Rui Rio (o autarca, recorde-se, chegou a expulsar jornalistas de conferências de imprensa e a condicionar a atribuição de subsídios municipais à assinatura de um documento que limitava a liberdade de expressão dos responsáveis pelas instituições a apoiar).

Também a Assembleia Municipal do Porto votou, no final de Junho, duas propostas prevendo a atribuição do nome de José Saramago a uma rua ou edifício relevante da cidade, tendo, neste caso, sido aprovadas as duas resoluções, sem qualquer voto contra. Ainda anteontem, o escritor Mário Cláudio entregou na Câmara do Porto uma petição com 191 assinaturas convidando o presidente social-democrata da autarquia, Rui Rio, a aprovar a proposta de dar o nome de José Saramago a uma rua da cidade. Entre as várias personalidades do mundo da cultura que assinaram o documento conta-se o social-democrata Vasco Graça Moura.

Já em Espanha, a cidade de Cuenca, em Castilla La Mancha, aprovou por unanimidade, no início do mês, uma proposta para dar o nome de Saramago a uma rua.

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