Preços dos hotéis portugueses caem 8,4 por cento face a 2007

Unidades hoteleiras estão a cortar nos valores cobrados por causa da crise na procura. Algarve regista a maior descida, assim como as unidades de cinco estrelas

Os preços nos hotéis portugueses estão 8,4 por cento abaixo dos praticados em 2007. Há três anos, a média anual situava-se nos 66,78 euros por quarto, valor que desceu para 61,18 euros em Maio de 2010, de acordo com dados da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). O Algarve é a região onde se regista a maior descida (24,5) por cento, tal como acontece nas unidades de cinco estrelas (-7,5 por cento) a nível nacional. Poderá ser o reflexo de uma estratégia de redução, provocada pela crise económica e pela diminuição da procura.

De acordo com os dados cedidos ao PÚBLICO pelo Gabinete de Estudos e Estatísticas da AHP, no final de 2009 os preços médios já apresentavam uma descida face a 2007, mas muito mais ligeira (0,3 por cento). Em Maio deste ano, a quebra situa-se nos 8,4 por cento. A associação explicou que esta diminuição deriva do facto de haver uma "menor procura, que vem caracterizando o mercado, nomeadamente desde 2008".

O Algarve é responsável pela maior redução, tendo os preços descido 24,5 por cento - de 63,79 para 48,17 euros. O presidente do Turismo do Algarve explicou que "os valores até Maio não contemplam a época alta do Verão algarvio", o que significa que os valores tenderão a subir nos próximos meses. "Os resultados anuais de 2007 a 2009 são positivos e não podem ser confrontados com valores parciais", acrescentou Nuno Aires.

Ainda assim, o responsável tem admitido que há uma tendência para redução de preços no Algarve. Em entrevista recente ao PÚBLICO, afirmou, aliás, que essa "não é a solução" para recuperar o turismo na região. Confrontado com os dados da AHP, disse ainda que "mantém o apelo (...) aos hoteleiros algarvios para recusarem baixar os preços porque isso afectaria o mercado e o destino, não tornando o Algarve mais competitivo".

Já a AHP, cujo estudo se baseia em informação prestada mensalmente por 400 unidades hoteleiras, defende que a região está a ser mais penalizada pela "menor actividade a partir de determinados mercados, como o inglês", que, com a desvalorização da libra, tem vindo a apresentar quebras nas dormidas em Portugal.

Turistas mais poupados

A segunda maior quebra cabe ao Alentejo, onde os valores médios por quarto desceram dez por cento entre 2007 e 2010, passando de 49,27 para 44,33 euros. Segue-se a região de Lisboa, com uma diminuição de nove por cento, a Madeira (-5,7 por cento) e os Açores (-1,8 por cento). As únicas excepções são as unidades hoteleiras instaladas no Norte do país, que registaram uma subida de quatro por cento, tendo passado a cobrar, em média, mais 2,18 euros por dormida. E a região das Beiras, onde os preços aumentaram 1,2 por cento.

No que diz respeito à categoria dos hotéis, os cinco estrelas são os que apresentam um maior decréscimo face a 2007, na ordem dos 7,5 por cento, a nível nacional. Há três anos, praticavam-se valores médios de 114,44 euros por quarto, enquanto, em Maio de 2010, os preços se situam nos 105,83 euros. Para a AHP, esta quebra é "natural, em períodos em que a generalidade do consumo diminui", fazendo com que "os turistas prefiram ofertas de alojamento menos dispendiosas".

Os hotéis de duas estrelas têm comportamento contrário, apresentando uma subida de um por cento. A associação acredita que isso vai continuar, uma vez que "é um tipo de produto com maior potencial de crescimento no país, nomeadamente nos meios urbanos, onde não existe ainda grande oferta".

Recrutar e investir menos

A AHP considera que a estratégia de redução de preços pode pôr em causa a viabilidade das unidades hoteleiras, obrigadas a descer as margens de lucro por causa da diminuição do poder de compra. "A manutenção dos níveis de qualidade em mercados muito competitivos exige às empresas a manutenção de preços que permitam manter níveis de rentabilidade que a actual crise, casuisticamente, coloca em causa", afirmou.

Além disso, também teme que possa ter impactos negativos sobre o emprego, nomeadamente no Algarve, onde "a quebra de actividade pode provocar baixas importantes na afectação de recursos". Em termos de investimento, preços mais baixos também podem trazer consequências negativas. A associação admite que "os menores níveis de actividade fruto da crise", em conjunto com "a maior dificuldade" no acesso ao crédito bancário, "têm atrasado o avanço de projectos que vinham sendo anunciados desde 2010".

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