Top secret?Há um mundo escondido, sem controlo e a crescer nos EUA

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Celebração do sétimo aniversário do 11 de Setembro no Pentágono JASON REED/ Reuters

O sistema de segurança americano é tão grande e complexo que ninguém sabe se está a cumprir o objectivo: manter os cidadãos seguros

O mundo top secret que o Governo norte-americano criou em resposta aos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 tornou-se tão grande, ingerível e fechado que ninguém sabe quanto custa, quantas pessoas emprega, quantos programas tem, ou exactamente quantas agências fazem o mesmo trabalho.

Uma investigação de dois anos do Washington Post descobriu uma América top secret escondida dos olhares do público e a que falta supervisão. Depois de nove anos de crescimento sem precedentes, o resultado é que o sistema para deixar os EUA mais seguros é tão grande que a sua eficácia é impossível de determinar.

Estas não são questões académicas: falta de definição de objectivos e não falta de recursos foi o que esteve no centro do tiroteio de Fort Hood, Texas, que em Novembro fez 13 mortos, assim como do ataque do dia de Natal que foi impedido não pelas centenas de analistas contratados para encontrar terroristas, mas por um alerta de um passageiro que viu fumo a sair do lugar da pessoa ao seu lado.

Estas são também questões que preocupam muito algumas das pessoas encarregadas da segurança.

"Tem havido tanto crescimento desde o 11 de Setembro que é difícil controlar não apenas para o director nacional de informação, mas para qualquer pessoa, para o director da CIA, para o secretário da Defesa - é um desafio", disse o secretário da Defesa, Robert Gates, numa entrevista ao Washington Post na semana passada.

No Departamento de Defesa, onde se concentram mais de dois terços dos programas de informação, apenas uma dúzia de altos responsáveis (chamados "super users") têm a capacidade de ter conhecimento sobre todas as actividades do departamento. Mas como dois deles referiram em entrevistas, não há qualquer modo de estarem a par do trabalho mais sensível do país. "Não vou viver o suficiente para ser informado de tudo", comentou um dos super users.

A sublinhar a gravidade destas questões estão as conclusões do almirante na reserva John Vines, a quem foi mais tarde pedido que revisse o método para monitorizar os programas mais sensíveis do Departamento de Defesa. Vines, que chegou a comandar 145 mil tropas no Iraque e está habituado a problemas complexos, ficou espantado com o que descobriu.

"Não tenho conhecimento de qualquer agência com autoridade, responsabilidade ou um processo em curso para coordenar todas estas actividades comerciais interagências", disse. "Por não haver um processo sincronizado, os resultados inevitáveis são dissonância, eficácia reduzida e desperdício", criticou. "Assim não podemos dizer se nos está a tornar mais seguros."

O director da CIA, Leon Panetta, entrevistado pelo Post na semana passada, disse que começou a conceber um plano de cinco anos para a sua agência, porque os níveis de gastos desde o 11 de Setembro não são sustentáveis. "Com estes défices, vamos bater no fundo. Quero estar preparado para isso", disse.

Numa entrevista antes de se demitir de director nacional de informação, Dennis Blair defendeu que não há sobreposições no mundo dos serviços secretos. "Muito do que parecem ser redundâncias são informações dadas à medida de vários clientes", disse.

Semanas mais tarde, diria das conclusões do Post: "Depois do 11 de Setembro, quando decidimos atacar o extremismo violento, fizemo-lo como sempre fazemos neste país: se vale a pena fazê-lo, vale provavelmente a pena exagerar no modo como o fazemos." Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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